Wednesday, November 22, 2006

Momentos

Ela virou-se, já preparada, perguntando com os olhos se era aquilo que ele queria, enquanto os seus lábios quentes e levemente entreabertos sorriam.
Ele, com um olhar guloso, sorriu e aquiesceu, mostrando-se, como sempre, pronto.
Ela, com um sorriso ainda mais convidativo deu-lhe o que ele tanto queria.
... Ele bebeu o café que ela lhe serviu, pagou e saiu dizendo à empregada do balcão. - Então, até amanhã, como de costume.

Monday, September 11, 2006

Desventuras de um semi-Deus

Parte 1 - Acho que Deus pode explicar!!!

O ornamento que usava no extremo superior da cabeça mostrava que tinha finalmente acabado a formação e se tinha tornado um semi-Deus. Não era de modo nenhum o melhor do curso, mas isso já ninguém precisava de saber. Das pequenas asneirolas que tinha feito durante a aprendizagem, ninguém sabia a não ser o Mestre “doG” e este não era homem para ir contar… bem talvez aquela em que tinha posto 2 seres primitivos naquele pequeno gobelet de experimentação e tanta asneira fizera que no fim doG teve que queimar tudo, lavar muito bem, para poder recomeçar.
A ele custou-lhe muito porque já se tinha afeiçoado aos dois seres pequeninos… até já lhes tinha dado nome… madA e evE. Tiveram que ser sacrificados por culpa dele. Nem se queria lembrar disso.
Depois disto, doG tinha achado por bem não permitir uma interacção tão grande entre os aprendizes e as espécies que usavam para os testes. A única maneira de saber o que se passava naquela pequena porção de terra era através do incrível sistema de lupas que doG tinha instalado. O único problema era que cada vez que usava a lupa para espreitar os pequenitos seres pelos quais era responsável, o sistema de lupas fornecia uma quantidade de calor tão grande (efeito semelhante ao de um raio de sol ao passar por uma lupa) que 5 segundos a olhar para qualquer coisa lá em baixo conduzia a um aumento da temperatura da ordem dos 200ºC quase instantâneamente. Isso era incomportável com as espécies que utilizavam.
Agora que acabara a formação e estava já na fase de estágio para se tornar responsável por um pedaço do território que doG administrava há muito tempo, tinha que dar o seu melhor. O seu estágio era tomar conta de uma pequena bola (povoada por alguns biliões de criaturas minúsculas) que doG apelidara de “Cato”. O seu grande problema era que a natureza daquela pequena espécie envolvia 2 géneros diferentes que convencionalmente chamavam de “macho”e “fêmea”, e as fêmeas eram muito belas. Pelo menos pelo que lhe era dado a ver, visto que nunca tinha conseguido olhar mais do que 5 segundos para uma delas, antes desta arder completamente e se tornar apenas em mais um borrão cinzento. Encontrava-se por isso num grande dilema. Por um lado queria espreitar aquele ser tão cobiçado, observá-las a moverem-se, falar com elas, por outro lado mais do que 2 ou 3 segundos a fazê-lo poderiam ser fatais para elas, era uma situação complicada, mais ainda agora que estava completamente obcecado por uma que permanecia num pequeno terreno situado no meio de um liquido azul, mas que parecia manter-se a flutuar. Essa era a sua predilecta chamava-lhe romA e vivia obcecado com a dualidade em que vivia. Observá-la e causar-lhe a morte ou nunca mais a espreitar e deixá-la viver a sua vida e morrer ele com aquele aperto que sentia no seu jovem coração apaixonado?

Thursday, September 07, 2006

Vencer o Medo

Desta vez ia conseguir! Tinha tentado diversas vezes mas unca tinha tido coragem suficiente. Sempre que via aquela curva aproximar-se um medo avassalador de se despistar apoderava-se dele e, instintivamente, diminuía a pressão do pé direito sobre o acelerador. Acabava por realizar a curva com menor velocidade o que o fazia perder o tempo suficiente para lhe roubar a hipótese de bater o recorde do circuito. Mas desta vez ia conseguir. Tiha que conseguir! Era já motivo de troça entre a família, amigos e adversários o medo que tinha daquela curva. Sabia bem que era o mais rápido no resto do circuito, mas ali perdia sempre mais tempo do que os outros... mas desta vez não ia ser assim!
Viu a curva aproximar-se e concentrou-se, mais ainda, na condução, resolvido a não abrandar mais do que o estrictamente necessário. A curva aproximou-se a uma velocidade vertiginosa mas ele não cedeu ao medo. Manteve o controlo sobre o carro e sentiu-se certo de que ia conseguir. Sentiu, então, uma sensação de libertação, a euforia de ter vencido o medo. Era como se estivese a flutuar nas nuvens, uma confiança infinita nas suas capacidades, uma libertação dos constrangimentos terrenos, uma vitória sobre o mundo físico.
Quando os socorros retiraram o cadáver dos destroços do fórmula 1, no fundo da ravina, o rosto destruído ainda apresentava vestígios de um sorriso...

Saturday, August 19, 2006

Almas atomentadas

Quando ela me contou como a leitura daquele artigo sobre o síndrome das almas atormentadas tinha afectado a sua vida eu estava longe de imaginar o quanto isso era verdade. Segundo me relatou, ele tinha achado curiosa toda a panóplia de asneiradas e de incorrecções que se diziam , mas no entanto, algo lhe tinha captado a atenção de um modo muito profundo e era o facto de todos os cantores referidos terem na família pais ou mães que tinham do mesmo modo que eles cometido suicidio, Kurt Cobain, Jeff Buckley, Elliot Smith.
A teoria era a coisa mais disparatada de que já ouvira alguma vez falar “pessoas de sucesso que no pico da sua carreira, no topo da realização quer a nível pessoal, quer a nível laboral decidiam acabar com tudo, porque na realidade sofriam do sindrome das almas atormentadas”. Mas a ele, biólogo de formação, geneticista de profissão tinha sido o suficiente. Havia ali algo muito interessante, que poderia ser estudado.

Depressa conseguiu escrever umas palavras sobre a sua ideia, colectar dados suficientes para interessar os seus pares da academia de ciências, e pôr meio mundo a trabalhar na ideia que tinha tido. Rapidamente a sua ideia passou a tese e finalmente veio a grande descoberta, quando após análise de algumas centenas de casos de suicidas recentes e feito o historial da sua situação na data do suicidio, tinha conseguido correlacionar o chamado sindrome das almas atormentadas na realidade com um defeito heredietário dos genes ST425 a ST569.
Bom ... a catadupa de acontecimentos posteriores à aceitação cientifica desta correlação brilhante, (que depois foi ainda confrontada com a análise do DNA de alguns dos suicidas mais famosos de quem era relativamente fácil obter algum DNA para análise) foi de tal modo súbita que quando se apercebeu de qual o ponto da sua vida onde estava, (vencedor do prémio Nobel da Biologia, promoção interna na academia para a categoria mais alta da sua carreira, vida familiar em alta porque finalmente ele e a sua esposa tinham conseguido ter o filho que tanto desejavam) ficou admiradissimo como as coisas podiam mudar em tão pouco tempo.
Como quase todos os dias, ela estava à espera do seu géniozinho para o jantar, quando o telefone tocou. Qualquer pessoa, que ali estivesse presente podia rapidamente inferir que algo de grave se tinha passado, pelo tom assustado que ela assumiu. Finalmente com o fim do telefonema, veio a certeza de que algo de errado tinha acontecido, ela telefonou para a sua mãe a pedir que viesse rapidamente ficar com o bébé porque tinha acontecido algo muito grave ao marido.
N a academia de ciências, todos por quem passava, baixavam a cabeça e comentavam, - mas porquê?... porquê?, tinha tudo o que um homem pode querer.
Quando chegou ao gabinete que ele ocupava deparou com uma cena tenebrosa, para a qual não arranjou descrição e por isso eu também não a vou tentar fazer. Em cima da secretária, não havia nenhum bilhete de despedida tão típico dos suicidas, havia apenas uma análise do seu próprio DNA e lá estava o gene ST425 defeituoso.
E foi assim que a minha mãe me transmitiu esta história, e é também por isso que optei por nunca me esforçar por ter muito sucesso, nem consigo ser muito feliz, é melhor assim, digo eu... ou então é só uma boa desculpa para não me esforçar... é que a gaita do defeito é heredietário... e se o meu pai tinha...

Friday, June 30, 2006

God shuffled His Feet

Deus concentrou uma pequena porção da Sua Omnipresente Atenção naquele pequeno globo. Com um gesto de impaciência pensou para Si Mesmo “Não, ainda não é bem isto. Está melhor mas ainda não é isto.”
E com a Sua Poderosa Vontade apagou o resultado da experiência falhada. “Como é exigente ser Deus...” pensou Ele.
E, na Terra, uma hecatombe acabou, de novo, com a Humanidade.

Tuesday, June 27, 2006

As gotas de chuva

Lá fora a chuva caía. Distraidamente olhei pelo vidro da janela para as gotas que tombavam e traçavam padrões sobre o vidro. Desde pequeno que gostava de contemplar a chuva e os desenhos que esta criava.
De repente, pareceu-me reconhecer um padrão sobre o vidro. Curioso, aquele desenho, ao invés dos restantes, não se parecia dissolver nas gotas que caíam mas sim reforçar-se. E fazia-me recordar qualquer coisa... Concentrei-me mais naquela imagem e nas memórias que quase invocava, pondo de lado, completamente, o trabalho. Já me estava a lembrar... era criança, tinha os meus seis anitos, quando tinha visto este mesmo padrão formado pela chuva sobre uma outra janela. A imagem tinha-me marcado muito por qualquer razão que nem na altura nem agora compreendia.
Concentrei-me mais ainda, tentando trazer à lembrança aquela época da minha vida. Lá estava, lembrava-me de tudo perfeitamente, como se fosse hoje. Curiosamente feliz por me lembrar, olhei casualmente para a minha mão e constatei surpreso que estava muito pequena, sem rugas, uma mão de criança. Olhei para o que me rodeava e vi que, enquanto me abstraía de tudo para me concentrar na chuva, o ambiente que me rodeava tinha mudado drasticamente. Eu próprio tinha mudado drasticamente! Era uma criança de novo.
Claro que estava a sonhar, mas era um sonho tão bom! Durante meia-hora voltei a viver a minha vida de criança, tão feliz e sem problemas. Enquanto isso, o padrão criado pela chuva continuava na janela.
Quando estava quase a terminar a meia-hora, o padrão começou a dissolver-se. Penalizado, olhei para ele. Era um padrão tão bonito, tão agradável, não queria que se fosse embora. Quando se desvanecera completamente e descolei os olhos da janela olhei em volta e tudo mudara outra vez. Era, de novo, um homem, com os problemas dos adultos e a amargura que só a vida pode trazer. Devia ter estado a sonhar... no entanto, o sonho fora tão real, fora tão bom!
Ainda zonzo com o prazer de me ter sentido criança de novo, olhei para a secretária e verifiquei, espantado, que sobre ela se encontrava um brinquedo que reconheci de imediato: era o meu carrinho favorito, o qual tinha perdido num dia chuvoso quando tinha seis anos e nunca mais voltara a encontrar! Verdadeiramente abismado, pensei se teria sido tudo verdade. Teria eu voltado aos meus tempos de criança durante meia-hora? Que outra explicação poderia haver? Mas isso era impossível!
Ainda hoje não sei o que se passou, mas a verdade é que cada vez que chove procuro avidamente uma janela e tento descortinar aquele padrão mágico para recuperar a minha infância por mais uns instantes. Infelizmente, nunca mais o vi, mas continuo a tentar...

Friday, June 23, 2006

Terror

A criança encolheu-se mais nos lençóis ao ouvir o trovão que reverberava pelo quarto, fazendo as paredes e os seus pobres nervos tremerem. Os pais bem lhe tinham explicado no outro dia que não valia apena ter medo e que não devia ir ter com eles ao quarto só por causa da trovoada. Bem lhe tinham tentado ensinar que era um fenómeno natural, que estva associado a relâmpagos e trovoadas, mas ela não ouvia chuva nem via luzes lá fora. Só aqueles trovões assustadores.
Os ameaçadores sons continuavam a ouvir-se e cada vez mais ela se enterrava nos lançóis. Finalmente, acabou por adormecer a chorar, assustada até ao terror. Passados 15 minutos, o vizinho de cima esfregou as mãos e disse para a mulher: “Vês? Eu bem te dissse que o guarda-fatos ficava melhor nesta parede!”

Wednesday, June 21, 2006

O caçador e o cão

O velho caçador tinha tropeçado na encosta escorregadia e tinha rebolado até o seu corpo ter sido imobilizado por um tronco de árvore. Não que ele não fosse cuidadoso, mas tinha-lhe dado aquela dor no peito... e agora sentia o resto da vida que havia nele a escoar-se para a noite gelada. Tinha a certeza que não iria escapar.
Sentiu algo molhado na face e conseguiu, com esforço entreabrir os olhos. Deu de caras com o seu fiel amigo canino que descera até ao pé do corpo do dono e lhe lambia a cara.
- Sabes, o que mais lamento é ter de te deixar - murmurou o velho - tu foste a minha companhia e toda a minha família desde que te apanhei, ainda cachorro, há 3 anos. Gostaria de passar ainda muitos anos contigo, mas não vou conseguir. Desculpa-me...
Ergueu a mão e fez-lhe uma carícia com a parte de dentro do pulso, como só ele e mais ninguém sabia fazer, aquele gesto que só ele e o seu cão conheciam e significava, para ambos, gosto de ti, sou teu. Finalmente, fechou os olhos enquanto uma lágrima lhe descia pela face e a vida abandonava, de vez, o seu velho corpo.
Ao sentir que o seu dono já ali não estava, o cão ergueu o focinho para a Lua e uivou, um uivo pleno de dor e perda, como se o mundo tivesse acabado. Depois, afastando-se um pouco escavou na neve até que os flocos projectados pelas suas poderosas patas traseiras cobriram completamente o corpo daquele que tinha sido o seu dono, enterrando-o de forma a evitar que o seu corpo servisse de pasto para os animais selvagens. Acabada essa tarefa, olhou mais uma vez para aquele túmulo improvisado e começou a correr pela neve commo se procurasse algo, como se tivesse uum objectivo sagrado.
Correu sem parar até à viória onde ele e o seu dono iam, de vez em quando, comprar comida, atravessou-a e continuou a correr sem se deter a não ser para, de vez em quando cheirar o ar. Correu dia e noite, noite e dia, só parando o estritamente necessário para se alimentar e descansar o essencial para poder continuar a correr. Passou vilas, cidades, e continuou a correr como se tivesse pressa de chegar a algum lado.
Após três dias de corrida desenfreada, chegou a uma vilória onde parou mais uma vez para cheirar o ar e, ao invés de recomeçar a sua corerria louca, parou um pouco, como se quisesse certificar-se de algo.
Com um passo decidido, dirigiu-se a uma casa, cercada por uma vedação de madeira pintada de verde, cujo portão estava aberto. Dirigiu-se até à entrada da casa propriamente dita e deitou-se no tapete. Ainda não tinham passado 2 minutos, um casal aproximou-se, falando excitadamennte e trazendo um grande embrulho. O homem tocou à porta e, de imediato, ouviram-se passos e um homem risonho abriu a porta.
- É um rapaz - disse o homem, feliz. - Temos um filho! Querem vê-lo? Entrem, são bem vindos!
Reaprando no grande cão, o dono da casa, que naquele dia não conseguia deixar de considerar tudo bom e de gostar de tudo e de todos, disse:
- Entra tu também. Arranja-se qualquer coisa para ti na cozinha. Deve querer dizer qualquer coisa teres chegado no mesmo dia em que nasceu o meu filho, o meu primeiro filho! Entra, que és bem-vindo.
Fechando a porta atrás do cão e das visitas, o homem dirigiu-se para o quarto onde estavam a sua esposa e o seu bébé, falando com os seus amigos. O cão foi atrás e, entrado no quarto, sentou-se a alguma distância do berço onde ficou parado, olhando com atenção para o pequeno ser que se agitava entre os lençóis e que pareceu também reparar, de imediato, no cão. A mãe recente, notando um pouco menos de barulho proveniente do berço, olhou para a criança, seguiu o olhar desta e viu o cão.
- De quem é auqele cão? Compraram um cão? - perguntou ela aos seus visitantes. O marido apressou-se a responder que não era esse o caso, era um cão vadio que tinha surgido à porta mas que estava a pensar em ficar com ele para brincar com o seu filhote, quando crescesse. A esposa, notando que a criança não parecia receá-lo e que ele não se aproximava do bébé, achou que tal poderia ser possível mas foi logo dizendo: - Não o quero no quarto com o bébé. Tens que arranjar uma casota para ele lá fora.
Assim, o cão foi adoptado pela família, recentemente aumentada, e foi vendo o bébé crescer, sempre olhando por ele e velando para que nada lhe acontecesse.
Quando a criança fez 8 meses, os pais, que entretanto tinnham ganho confiança no cão e já o consideravam parte da família, resolveram que era altura de deixar a criança fazer festas ao animal. Segurando a criança, aproximaram-na do grande cão e disseram-lhe que não tivesse medo, que aquele era uma amigo.
Como se nunca tivesse tido o menor receio do cão, a criança aproximou-se do animal e fez-lhe uma carícia com a parte de dentro do pulso. O cão deu-lhe uma lambedela na mão e sentou-se, feliz. Não se tinha enganado, estava em casa...

Monday, June 19, 2006

Alter-ego

Olhei para as mãos e não as reconheci.
- Estas não são as minhas mãos! - pensei - As minhas mãos não estão calejadas e envelhecidas como estas! O que me aconteceu?
Olhei em volta e vi tudo pouco nîtido. Parecia que os meus olhos não conseguiam focar como deve ser. Por entre as névoas da deficiente visão vi um brilho que me chamou a atenção. Dei ordem aos meus pés para se moverem mas eles responderam devagar, muito devagar.
Estes não são os meus pés! - pensei, outra vez - Os meus pés são lestos e não se recusam mexer-se!
Lentamente, aproximei-me do brilho, e, esforçando os olhos, consegui focar uma imagem. Era um espelho. Eu estava a olhar-me a um espelho! Mas aqule não era eu! O indivíduo que olhava para mim naquele reflexo era parecido comigo mas muito mais velho! Para aí 40 anos mais velho!
Um grito de desespero formou-se na minha garganta e comecei a gritar em pânico.
A minha esposa sacudiu-me e acordou-me daquele pesadelo malvado, devolvendo-me assim o meu corpo de homem jovem, que me pareceu soberbo...

Friday, June 16, 2006

todos dançavam...

Olhou para o lado...à sua volta todos dançavam!
Todos dançavam...
Ninguém sabia a música, ninguém sentia a música... mas todos dançavam...
Não ouviam a música...mas mesmo assim dançavam...
Porquê? Porquê fazer alguma coisa só por fazer?
Porque os outros o faziam? Porquê?
Ovelhas...Carros...Palhaços...
Tolos perdidos na ilusão de que ser igual aos outros é que importava...
De repente tudo parou...
O mestre olhou para o carrossel que fizera e viu o boneco que não subia e descia, e sem sequer parar o carrossel disse:
"Tu não és como os outros...tu não pertences aqui..."

e calmamente tirou o boneco...

PS: Não é grande coisa, mas pronto...:D

Deathchase?

O seu corpo começava a suar com o esforço que aquelaa corrida lhe estava a exigir. Não sabia quanto mais tempo aguentaria aquela velocidade vertiginosa sem se esbarrar contra uma árvore. Os troncos passavam por ele como um borrão, toda a sua atenção focada em evitar o impacto, sempre próximo, sempre adivinhado mas, até agora, evitado.
O corpo oscilava com cada curva como se fizesse parte da sua moto, as mãos crispadas com o esforço e a concentração. E os ramos continuavam a rodopiar à sua volta, obrigando-o a dessviar-se, agora para a esquerda, depois para a direita. Começavam a doer-lhe os músculos todos com oesforço quase sobre-humano. Tinha a certeza que seria uma questão de momentos até se esbarrar, nunca conseguiria chegar ao fim daquela corrida demoníaca contra o temppo.
De repente, aconteceu. Uma curva feita um pouco menos rápido do que deveria e CRASHHHH!...
Levantou-se da cadeira, limpou as mãos do suor, bebeu mais um gole da sua Coca-Cola fresca e sentou-se de novo para começar um novo jogo.

(Dedicado ao "velho" Spectrum. O ponto de interrogação no título deve-se a não ter a certeza quanto ao nome do jogo...)

Wednesday, June 14, 2006

Todos levantaram os braços

O ladrão tinha sido apanhado e encontrava-se perante todos os adultos disponíveis da aldeia (e muitas crianças) para ser julgado pela comunidade, de acordo com as tradições locais. O oficial da justiça responsável pela sua captura proclamou com a sua voz clara e vibrante:
- Ele foi visto a roubar comida a muitos de vocês. Muitos que até precisavam dela para alimentar a própria família! Não ajudou nas sementeiras ou nas colheitas e não o vimos trabalhar um dia que fosse. Os estatutos da aldeia são claros, deve ser despojado de todos os seus bens, expulso sem levar mais do que a roupa que tiver sobre o corpo. Todos os que estão de acordo levantem o braço.
E todos levantaram o braço.
Perante aquela raiva surda e unânime, o ladrão encheu-se de coragem, ergueu a cabeça e falou, com voz pouco clara mas decidida:
- Pois se me condenam, ouçam o que tenho a dizer. Quantos de vocês podem afirmar que nunca os ajudei, que nunca fui prestável? Levantem o braço, se faz favor.
E muitos braços se levantaram, apesar de haver alguns que, embaraçados, mantiveram o braço baixo.
- E quantos de vocês nunca passaram noites na praça central a ouvir-me tocar a minha guitarra, cantando comigo para se alegrarem ou para exprimirem a tristeza que vos ia no coração? Levantem os braços, por favor!
De novo se viram braços no ar mas o número de aldeões que olhavam para o lado algo embaraçados e de braços em baixo aumentou.
- Quem de entre vós nunca procurou o meu conselho e o seguiu com bons resultados? Braços para cima!
Novamente se viram braços no ar, mas o número parecia diminuir com cada pergunta.
- E nos últimos tempos, quando a minha mulher esteve doente, quantos de vocês me ofereceram ajuda para tratar dela? Vá, ergam os braços.
Ainda se viram uns braços no ar, mas pareciam perdidos na multitude de pessoas que olhavam para os pés, como se lhes custassse olhar uns para os outros.
Já com as lágrimas nos olhos o ladrão continuou.
- E quantos de vocês foram comigo ao funeral da minha querida esposa quando ela se foi? Quero ver se alguém se manifesta! Vá, levantem os braços se forem capazes!
Nem um só braço se levantou e até o oficial olhava atrapalhado para as mãos, como se não as reconhecesse.
Com a voz embargada pelo desespero, o ladrão terminou.
- Vá, exilem-me, também já aqui não há nada para mim! Vocês foram um dia meus amigos, ofereceram-me a vossa comida e a vossa bebida mas quando eu tentei fazer uso da vossa oferta chamaram-me ladrão e querem expulsar-me!
E cruzando os braços deixou um pequeno relance do homem orgulhoso que fora fulgir nos seus olhos e acrescentou:
- E quantos de vocês têm vergonha do mal que fazem?
E todos levantaram os braços...

Wednesday, May 31, 2006

A missão de uma vida


Sabia perfeitamente que a realização da sua vida era acabar, mas isso em nada fazia menos nobre a sua função.
Júlio que como todos os seus semelhantes, tinha este nome por na reminiscência da sua memória existir o nome do criador Jules (ou qualquer coisa do tipo), era um entre os muitos que todos os dias sentiam aquela corrente intensa mas reconfortante que os fazia aquecer, que os alimentava e que tanto prazer lhes dava.

Mas o dia estava marcado, e às 18h e 35 minutos do dia 28 de Fevereiro de 2004 quando a Sra. Poetry ligou o microondas e ouviu um estouro, já tinha chegado a hora de Júlio.
O Sr. Poetry quando chegou a casa protestou e disse- lá foi outra vez a gaita do fusível ao ar… mas antes assim… estas porcarias são baratas e nem custam muito a mudar, imagina se fosse outra parte do microondas”.

Monday, May 29, 2006

7I0


A mulher desesperada saiu do carro, aquele último ruído era a morte oficial do chaço. Achou que o seu destino era cruel ficar ali no meio de nenhures sem hipótese nenhuma de pedir ajuda a alguém, o carro ainda acusava meio depósito de combustível e o seu ex-companheiro de viagem tinha-lhe falado qualquer coisa sobre os bidons metálicos que estavam acumulados na parte de trás do carro. Antes de morrer, Ahl Mamhmed tinha-lhe dito no seu linguarejar qualquer coisa importante, mas que ela não compreendera e na sua apressada fuga dos “tuaregs” que os perseguiam, nem se preocupou em saber bem o que era. Agora isso podia revelar-se essencial, uma vez que o velho carro tinha parado definitivamente.

Saiu batendo a porta com força, como se esta tivesse alguma culpa, e abriu o capot do carro, donde apenas via sair muito fumo que parecia sair dum depósito misterioso onde apenas via escrito o seguinte número “7I0” - o que poderia ser aquilo?
Revoltada com toda a situação, dirigiu-se para a traseira do carro e com alguma violência escancarou a porta da bagageira do jipe, donde rolaram além do corpo de Ahl Mamhed, também 2 bidons metálicos. Simultaneamente sentiu uma enorme picada no pé direito e pouco tempo teve mais do que o necessário para olhar para baixo e ver um escorpião preto a afastar-se calmamente da sua sandália. Ainda o tentou pisar, mas não conseguiu.
Sentiu finalmente que todas as suas forças a abandonaram e com esse sentimento veio uma queda violenta no chão e num último lampejo de sobriedade abriu os olhos e viu mesmo à sua frente 1 dos bidons que tinha caído da bagageira do jipe e se tinha voltado ao contrário apresentando agora uma sigla que ela reconhecia “ 7I0 ” desesperada moveu a mão para esfregar os olhos, mas apenas conseguiu embater com a mão, num movimento descoordenado, no bidon que rolando apresentava agora escrito “OIL” (Banda sonora - Smoke on the water - Deep Purple)

Para(que)sitas

Ele olhou para ela e perguntou: - Vamos?
Ela aquiesceu, preparou-se e saltaram juntos... e o cão coçou-se violentamente ao sentir aquela picada conjunta das duas pulgas.

Friday, May 26, 2006

Night & Day

E, de repente, era como se o dia se tivesse apagado, a noite tivesse chegado não anunciada. Tudo era escuridão e o pânico instalou-se na sua mente.
Logo a seguir o comboio saiu do túnel e tudo voltou ao normal...

Saturday, May 06, 2006

o vortex...

Naquele rodopio incessante ele não conseguia pensar... era impossível resistir aquela força que o puxava e o empurrava para junto dos outros...
Sem pensar muito ele ia-se juntando naquela onda que os empolgava e muito pouco subtilmente os levava cada vez mais perto daquele buraco...
cada vez mais próximos...
uns dos outros...
e daquele vazio...

e de repente tudo parou...
houve um ligeiro abano e algo disse:
"pronto meninos podem retirar do vortex e acrescentar 5 microlitros de SB e depois vamos para a centrífuga..."

Thursday, April 27, 2006

A lição



José Ferraz era um homem muito rico, era um dos novos ricos do jet-set nacional, a sua fortuna tinha sido avaliada em mais de 80 biliões de euros, e no entanto haviam 2 coisas que o preocupavam. A primeira prendia-se com o facto de ninguém lhe dar o devido valor porque tinha vindo de uma família pobre, não tinha títulos de nobreza, não tinha ninguém na família famoso, enfim … não tinha “pedigree”. A sua segunda preocupação era muito mais visceral e prendia-se com o seu único filho, que sendo um adolescente que tinha tudo o que queria, recusava sempre a notoriedade que a fortuna do seu pai lhe trazia. Andava mal vestido, não se preocupava com a sua aparência, escondia muitas vezes ardilosamente quem na realidade era dizendo apenas o seu primeiro nome e o nome herdado da mãe, que à maior parte das pessoas… não dizia nada, enfim fazia todo o possível para esquecer que era filho de José Ferraz.
Isso provocava desde há muito uma mágoa enorme em José Ferraz que da noite para o dia decidiu dar uma lição ao seu filho, mandando-o passar 2 dias com o seu tio lá na santa terrinha onde ambos tinham nascido, e onde o seu irmão era pastor de um rebanho com umas míseras 6 cabritas e 1 vaca. Agora é que o puto ia aprender como é bom ser rico, pensou José, e com ansiedade esperou pelo retorno do filho ao fim de 2 dias.
Domingo, quando o filho retornou, o pai quis logo saber como tinha corrido tudo. Começou logo por perguntar pelo irmão… se ainda continuava a viver aquela vidinha sem sentido, sempre a trabalhar no campo, sem telefone, sem computador, sem televisão, enfim… espicaçou um pouco o jovem para o pôr a falar.
Para seu grande espanto o rapaz contou maravilhas do sítio de tal modo que José Ferraz, (magnata das gravatas) já tinha um verdadeiro nó ao pescoço, quando finalmente apresentou os argumentos finais dizendo – então e como é que foi passar 2 dias, sem ires tomar uma banhoca na nossa piscina, sem estares umas horitas na conversa com os teus amigos pela Internet, e sem teres a tua aparelhagem topo de gama para ouvires a tua música.
O rapaz, antevendo que aquele seria o cavalo de batalha de seu pai, resolveu calá-lo rematando do seguinte modo
- Bom pai os 2 dias são realmente difíceis de esquecer, mas não por ter sentido a falta dessas coisas, porque se cá em casa tomo banho na nossa grande piscina, lá tomei banho num rio límpido fresco e maior ainda que a nossa piscina, se por outro lado não pude estar no “chat” com os meus colegas, passei largas horas a falar com o tio e os primos de coisas que me pareceram muito mais úteis e importantes do que as balelas que disparatamos no “Messenger” e finalmente quanto à música… o velho rádio do tio tem um som mesmo muito mau, mas em contrapartida, quando ele pegava na viola à noite e nos sentávamos cá fora a apreciar o céu estrelado e a cantar montes de músicas, todo o tipo de aparelhagem me parece dispensável, aliás tomei uma decisão muito importante, quero aprender a tocar viola e espero que me deixes ir passar já o próximo fim-de-semana lá com eles outra vez.
José Ferraz ficou sem fala, e durante mais de 10 anos nem quis saber do filho, que hoje em dia é um grande guitarrista numa banda internacional de grande sucesso, e que tem granjeado a Ferraz o bom nome que a sua fortuna nunca tinha conseguido.

Friday, April 21, 2006

Obra perfeita

- Não, ainda não está pronto! - disse o pintor para grande surpresa do seu grande amigo que achava aquele quadro a maior maravilha que alguma vez tinha admirado. O pintor poisou o pincel com o qual tinha dado mais uma pincelada e afastou-se contemplando a obra. - Não, falta qualquer coisa, mas não sei o quê...
O outro olhava admirado e pensava para consigo mesmo que o artista devia ter razão pois o quadro já lhe parecia perfeito antes desta última pincelada, dir-se-ia que não podia ser melhorado e, no entanto, notava-se a diferença que este último retoque tinha feito. Era mesmo espantoso que um simples gesto com o pincel podesse melhorar tanto uma obra que já parecia ser perfeita...
Pondo de lado aquela obra, como já fizera tantas vezes anteriormente, o pintor dedicou-se a outra pintura em que trabalhava presentemente. O amigo contemplou também essa e achou inegáveis a sua qualidade e a sua perfeição. O artista posou o pincel novamente e disse: - Esta está terminada. O que achas?
- Genial - respondeu o seu amigo - Acho genial. Tivesse eu posses para isso e comprava-a já!
O artista riu-se, feliz com a admiração patente no rosto do outro, arrumou os seus materiais e saíram juntos para almoçar como tinham combinado.
Cenas semelhantes a esta, foram-se passando ao longo dos anos, mudando a obra que terminava, mudando os amigos, mudando os locais, só eram constantes o artista e a obra sempre cada vez mais perfeita e sempre aparentemente impossível de melhorar.
Finalmente, chegou a altura em que, como todos os homens, o artista chegou ao fim da sua viagem. Já com mais de 80 anos, com uma vida bem vivida, uma obra vasta e internacionalmente reconhecida, com meios materias de vulto, amigos e família, querido por todos e feliz, chegou a altura de fechar a conta corrennte com a vida. Só uma obra permanecia por terminar: a sua obra mais perfeita, venerada por todos quantos tinham a oportunidade rara de a ver e que, no entanto, ele não dava por terminada. Ainda faltava uma última pincelada. Já no seu leito de morte, rodeado pela família chegada, os olhos do artista de repente abriram-se desmesuradamente e, com voz entrecortada, conseguiu pronunciar: - Já sei o que falta! Sei qual o retoque final! - E, com estas palavras finais expirou, com um sorriso nos olhos que se espelhava em todo o rosto envelhecido, deixando uma obra perfeita, indescritivelmente bela e valiosa mas, no entanto, inacabada...

Monday, April 17, 2006

Preces mudas

A criança, chocada e desesperada, ergueu as mãos para os Céus numa súplica muda. E os Anjos, comovidos, juntaram as suas preces ao irreprimível apelo da criança. Deus, incapaz de resistir aquele todo, fez um gesto... e o carrossel recomeçou a girar sem que o controlador tocasse em nenhum botão, para grande espanto deste.

Saturday, April 15, 2006

Brincadeiras

A criança saiu do seu esconderijo atrás da árovre, saltou para a frente do grande gato e gritou “BUUUU!”
O leão saltou em frente e comeu a cabeça daquele pequeno ser que o provocava.
Moral: conhece bem com quem brincas antes de brincares.

Thursday, April 13, 2006

Super's

O Super-Homem olhou o vilão com um esgar de fúria e disse entre dentes: “Jamais levarás a tua avante, bandido!” O Vilão deu uma risada de desprezo e disse “Vê-se...” enquanto contemplava o super-herói que se debatia com as grades de Kryptonite.
Movendo-se 100 metros adiante olhou com um ar quase de comiseração o milionário Bruce Wayne atado, amordaçado e despido do seu fato de Batman que se debatia totalmente incapacitado contra as correntes que o manietavam.
Mais adiante encontravam-se mais e mais super-heróis, todos eles rigorosamente incapacitados graças às fraquezas características de cada um. Já não havia nenhum defensor do bem capaz de o perturbar, sabia-o bem. Tinha sido exaustivo e um a um, mesmo sem possuir ele próprio nenhum super-poder, tinha-os incapacitado. Nem sequer era super-inteligente, só metódico.
Com um passo pausado e seguro de si mesmo saiu pela porta, preparando-se para ir fazer um “levantamento” ao banco. No edifício aparentemente abandonado ficaram os inúmeros super-heróis que se debatiam fracamente contra os obstáculos que tinham sido cuidadosamente escolhidos para aproveitar as fraquezas que contrabalaçavam os respectivos (e espantosos) super-poderes. Para piorar a questão, estava tudo completamente escuro e cada um dos não-tão-super-heróis estava acústicamente isolado, logo não se ouvia um som...
Após alguns minutos, uma pequena porta lateral rangeu enquanto se abria um bocadinho e entraram dois vultos lentamente. Tratava-se de um velhote cego e um miúdo estropiado e atrasado mental que eram avô e neto, respectivamente, e procuravam abrigo para a noite já que não tinham casa para onde ir. No escuro não viam nada e também não ouviam ruído nenhum logo procuraram tacteando um local onde descansar os ossos durante aquela noite fria.
Na sua procura de um local onde dormiram embateram com o casulo onde se encontrava isolado o Super-Homem. No entanto o cego não via nada, o mentecapto não percebia nada do que mal via e o incapacitado não se conseguia fazer ouvir... No entanto o velho já estava habituado aquelas situações e falou com calma ao rapaz fazendo com que este lhe explicasse em termos simples o pouco que conseguia ver. Depois de perceber que se encontrava um vulto em aflição dentro daquele contentor, decidiu libertá-lo, só para ajudar um alma em aflição já que não tinha o menor indício de quem era ou porque estava ali. Pouco a pouco, conseguiu guiar os movimentos do jovem por forma a libertar o pobre Super-Homem que assim que se viu livre daquela armadilha recuperou os seus super poderes. O resto foi o que seria de esperar: um herói libertou os outros e quando o Vilão voltou à base foi facilmente apanhado com todos os seus sequazes.
Tudo acabou com o mau atrás de grades desesperado por saber que todo o seu engenho, capaz de derrotar um tão grande número de super-seres, tinha sido derrotado por um velho cego e um aleijado atrasado-mental. Isto só prova que ninguém é demasiado insignificante nem ninguém é independente dos outros.

Tuesday, April 11, 2006

luar...


O luar esbateu-se na janela,
lá fora estava ele
e dentro estava ela,
separados na realidade
prenderam-nos na tristeza
mas eles ganharam a liberdade
e tiveram a certeza...
Porque o amor sentido
quebrou as correntes do inferno,
e os segredos nele contidos
revelaram-se num gesto terno.
Um beijo foi atirado
e por ela agarrado,
um coração foi arrancado
e outro completado,
de humanos a anjos passaram,
e em anjos convertidos...
juntos voaram...

isto não é muito o estilo do blog...mas eu gosto dele...é bonito...:P (modéstia à parte claro...)

Monday, April 10, 2006

Help!!!



Estava cansado de ser ignorado… a sua paciência estava a esgotar-se… há muito tempo esperava que alguém comunicasse com ele, mas nada.
Por isso decidiu que tinha que fazer alguma coisa, procurou entre os seus 3 melhores amigos, aliás os únicos (porque isto de amigos tem muito que se lhe diga … vale mais ter poucos mas bons), mas só conseguiu ajuda do amigo que menos inspirado era, mas nada podia fazer, tinha que pedir a sua ajuda e contar apenas com ela.
Planearam tudo cuidadosamente e passaram à realização do intrincado esquema para fazê-lo voltar a ser notado, o que aliás não era tarefa difícil.
A primeira acção resultou neste texto, e o Blog esperava agora ter chamado a atenção de todos outra vez. Escrevam-me … Escrevam-me gritava ele inconsolável!!!

Wednesday, March 29, 2006

O último combate

José Maria era um soldado. Era um veterano do exército branco. Nesse dia tinha sido chamado para um emergência.
Preparou-se… respirou fundo e desatou a correr para o local que estava a ser invadido. Rapidamente chegou lá, aproveitando a corrente e com a sua prática e sentido de orientação, não levou mais do que 82 segundos para chegar ao local.
Assim que se conseguiu aperceber da totalidade da cena, preparou-se para o combate.
Na realidade só conseguia ver os seus camaradas abrigados, tentando lutar contra a enorme lança metálica que parecia querer derrubá-los a todos. Já a tinham conseguido fazer recuar 3 ou 4 vezes, mas desta vez parecia mais difícil.

José Maria avançou decidido a dar a sua contribuição e com uma série de manobras arriscadas teve acesso ao teatro de operações.
Quando finalmente entrou em duelo com o invasor, pouco mais sentiu do que uma sensação de leveza, ao mesmo tempo que se sentiu puxado por uma força incrível.
A enfermeira, com um sorriso amarelo, dizia para o paciente “ olhe … já está” – dizia, reforçando o sorriso, “desta vez só foi à quinta … peço desculpa” dizia ao mesmo tempo que puxava a seringa do braço do pobre coitado que dava graças a Deus por tudo ter terminado (Banda sonora: “The voice – John Farnham”)

Tuesday, March 21, 2006

O Bem e o mal

Tobias era um bom homem. Trabalhador assíduo e dedicado de uma empresa de metalomecânica de alta precisão. Em casa era um bom marido, ajudava bastante nas tarefas de casa, aliás ajudava tanto que a sua mulher, por vezes, lhe gritava da sala (onde passava o dia todo a ver novelas de pés cruzados sobre a mesinha de chá) para ele descansar um bocadinho e deixar o jantar que nesse dia iam comer fora.
Coitado do Tobias, afinal já tinha limpo o pó e aspirado a casa toda, tinha tratado da roupa, lavado a louça e merecia um descanso. A sua mulher por vezes perdia alguns minutos (durante os intervalos da novela) a pensar na sorte que tivera em casar com um homem tão bom. Já na escola pimária o tinham votado como o menino mais bonzinho, no liceu tinha sido considerado o adolescente do ano e posteriormente tinha sido considerado o solteirão mais apetecivel do bairro, até ela ter tido a sorte de o conhecer.

Toda esta rectidão, bondade e sentido de justiça advinham do facto de Tobias acreditar piamente numa teoria que desde muito cedo tinha tecido na sua cabeça e que basicamente dizia, que só havia 2 tipos de pessoas, as boas e as más. Não havia pessoas assim, assim, ou que nuns dias eram boas e noutros más.
A quem tinha pachorra para o ouvir falar sobre a sua teoria, citava com fervor os exemplos de como tudo convergia para apenas 2 estados, como por exemplo, o actual panorama político no seu país , onde após a implementação da tão nova e frágil democracia, existia uma pluralidade de partidos, e com o passar do tempo tenderam para apenas 2 - um à esquerda e outro à direita. Outro exemplo que gostava muito de citar era o do tempo, quando era criança, lembrava-se tipicamente de 4 estações o Outono, Inverno, Primavera e Verão, hoje em dia apenas existiam efectivamente 2 o Inverno e o Verão.
Tudo se manteve nesta paz e harmonia, até ao dia em que um dente de uma roda dentada da máquina com que trabalhava encravou e fez com que toda a engrenagem saltasse a grande velocidade, tendo 145 (contados nas radiografias) minúsculos pedaços ficado cravados dentro da cabeça de Tobias.
Quando acordou do coma em que tinha ficado durante 2 semanas e 3 dias, soube a terrível verdade, é que de todo aquele metal que tinha sido projectado contra o seu cérebro somente 26 partículas tinham sido retiradas, porque as restantes estavam em partes "delicadas" do cérebro, em que não poderiam mexer. As consequências de ter todo aquele metal enfiado dentro da cabeça eram desconhecidas e imprevisiveis. Os médicos falaram-lhe de alguns casos parecidos com o dele, em que tinha havido lobotomia dos lobos frontais dos hemisférios do cérebro e com isso vieram mudanças de comportamento.
Mas ele acontinuava a acreditar na sua teoria dos dois estados, apesar de se sentir diferente, sobretudo quando passava perto de antenas emissoras de rádio ou de telemoveis, situação em que sentia uma enorme pressão na cabeça e começava a ouvir as emissões que estavam a ser efectuadas.
Com a sua nova situação veio um mar de desgraças. A mulher deixou-o, agora que já praticamente não fazia nada em casa. Foi despedido por incapacidade permanente superior a 90%. Um dos pedaço que se tinha alojado no seu cérebro tinha a forma de uma espiga e estava a enterrar-se cada vez mais profundamente no seu cérebro provocando-lhe um acentuado descoordenamento na locomoção. Com o andar do tempo tornou-se amargo. Quando paralisou completamente ficou agarrado a uma cama de hospital e tornou-se um chato rezingão, sempre preocupado em safar-se melhor que o parceiro do lado, não importando o facto de ter que prejudicar o paciente da cama ao lado. Quando conseguia estar lúcido pensava no asco de pessoa em que se tinha tornado.
Um dia, tantas fez ao velhote do lado que este farto de aturar aquele chato, quando o apanhou a dormir, pegou na muleta e deu-lhe tantas vezes quanto conseguiu até chegarem os enfermeiros e o agarrarem. Tobias ficou num estado lastimável e entrou em estado de coma por 2 meses. Quando acordou apercebeu-se que tudo voltara ao normal, de facto, com as pancadas na cabeça dadas pelo velhote do lado, tudo parecera voltar ao normal, tornara-se novamente uma pessoa afável, simpática e recta e já conseguia andar novamente. Que bom , pensava Tobias, agora ia gozar a vida outra vez.
Infelizmente 2 dias depois morreu em consequência de problemas no figado que tinha sido severamente atingido por uma das pancadas do velho.

Monday, March 20, 2006

Leopoldina a Super-heroína

Leopoldina era uma mulher invulgar. Tinha com o tempo desenvolvido uma série de poderes especiais e hoje em dia poder-se-ia considerar uma heroína, Leopoldina a super heroína.
Naquela manhã solarenga, estava a tomar um café na leitaria do Sr. Amílcar, quando presenciou uma cena que a revoltou e a obrigou a agir.
Estavam também na leitaria uma Sra. e um rapazito deficiente, que se movia descoordenadamente ao som do "Creep" dos Radiohead que tocava na velha rádio, e que após ter comido o pequeno almoço com ajuda da mãe (a tal Sra.) começou a tossir. Após 2 minutos de tosse convulsiva (tempo durante o qual a Sra. o avisou repetidamente para parar com aquilo) vomitou tudo o que tinha comido. A mulher deu-lhe uma valente bofetada que pôs o rapazito de seu nome Pedro em fuga para a casa de banho para se limpar.

Leopoldina estava chocadíssima com toda aquela cena, então aquela fraca desculpa de mãe manda um estaladão daqueles ao filho que além de já ser deficiente, teve a pouca sorte de ter um ataque de tosse.
Não podia tolerar aquilo, dirigiu-se à mulher e usando a sua super-força obrigou-a a deitar-se no chão de barriga para baixo, depois apressou-se a passar a sua mão esquerda sobre a cabeça da mulher, sabendo de antemão que com este gesto ia fazer um varrimento da memória dos últimos 3 meses da vida da mulher e assim, aperceber-se do quão má ela era para lhe poder aplicar o castigo merecido.
O resultado não foi nada do que imaginara, naqueles 34 segundos que levou a percorrer as memórias dos 3 últimos meses de vida da mulher nunca viu nada que não fosse uma manifestação profunda de amor pelo seu filho, e o que a tinha levado a ter nesse dia aquela reacção pela primeira vez, tinham sido os dias consecutivos a aguentar a mesma cena por parte do rapaz, que todos dias que ali ia tomar o pequeno-almoço com a mãe fazia sempre a mesma coisa, provocando um ataque de tosse até vomitar tudo o que tinha comido. Todos os dias sem falhar um. A mãe só naquele dia tinha pela primeira vez perdido a cabeça e tinha-lhe dado o estaladão.
Como se pudera enganar Leopoldina tão drasticamente. Realmente, nem tudo o que parece é. Leopoldina passou então a sua mão direita sobre a cabeça da mulher para a fazer esquecer tudo o que se tinha passado nos últimos instantes, e ajudou-a novamente a pôr-se de pé.
Desde esse dia, Leopoldina nem sempre tem pena dos coitadinhos, nem sempre acha que os maus merecem castigo, primeiro usa a sua mão esquerda, e diga-se de passagem tem usado muitas mais vezes a seguir a mão direita do que a sua superforça.

Tuesday, March 14, 2006

Descanso

Cansado, ele olhou atravvés da janela. Surpreso, notou que a paisagem não era a do costume. Como poderia isso ser? Ele não tinha saído do seu gabinete, não podia ter mudado a paisagem. Pôs-se de pé e abriu a janela. Não havia dúvida, a paisagem tinha mudado! Não reconhecia nada daquela vista que se lhe deparava. Já assustado, dirigiu-se para a porta do gabinete. Quando a abriu foi um novo choque. A porta não dava para o corredor do costume! Na verdade, não dava para corredor nenhum, só para uma imensidade onde não via nenhum ponto de referência, nada connhecido ou sequer remotamente reconhecível. No entanto, não podia deixar de sentir uma calma profunda, uma sensação de estar onde devia, uma sensação de verdadeiro descanso pela primeira vez em anos, perante aquela imensidade...
O funcionário da limpeza esfregava as mãos contrito enquanto explicava ao polícia: “Quando cheguei, já o velhote tinha morrido, tinha-se apagado sentado à secretária do seu gabinete...”

Monday, March 13, 2006

Um Paraíso tropical

Era verdadeiramente paradisíaca aquela ilha. Imaginem praias cobertas de uma fina areia tépida com textura de seda, rodeadas por vegetação exuberante, palmeiras que se erguiam até aos céus, os animais coexistindo amigavelmente com os humanos, como se fosse essa a vontade divina. Imaginem ainda um clima tão agradável que o uso de roupas se devia só a razões de pudor, não muito partilhadas pelas belas nativas da ilha.
Quando o barco tentou aportar à ilha para buscar os turistas que tinham passado aquele fim-de-semana na ilha abençoada, só descobriu mar. Nem sinal da ilha ou dos seus habitantes. Foi a partir desse fim-de-semana fatídico que ficou conhecida como a Nova Atlântida.
Foi também nessa segunda feira que um tenente artilheiro de uma pequena nação, recentemente chegada ao número das potências nucleares, foi repentinamente passado à reforma após ter participado no primeiro ensaio nuclear como responsável pela direcção dos misseis. Foi ainda nessa segunda feira que alguns colegas desse tenente foram levados a tribunal marcial por terem feito uma brincadeira estúpida, substituindo os óculos desse tenente por outros idênticos mas com lentes não graduadas.

Sunday, March 12, 2006

os ladrões...

Parados ficaram a ouvir a conversa que vinha de trás da porta... não era preciso pedirem silêncio um ao outro... não eram propriamente amadores, aliás já muitas vezes tinham feito coisas parecidas...
A conversa foi-se esfumando à medida que os passos se iam afastando. Sem sequer uma palavra a sua companheira, deu meia volta e dirigiu-se ao cofre. Não havia dúvidas que por trás daquela porta haveria tesouros apetecíveis, mas primeiro era preciso agir com cautela, afinal não queriam ser apanhados. Tinham bem na memória a última tentativa frustrada...
Avançando com cuidado lá foram os dois...pé ante pé, sem fazer o mínimo de barulho... e foi com pezinhos de lã que atravessaram a última porta.
Lá estava ele, o cofre, imponente e resplandecente à luz do sol. Na sua mente surgiram imagens de conquista e prazer...
"Mas agora não era altura!" disse para si próprio. Agora era altura de agir...
Rodearam o cofre e tentaram descobrir uma maneira de abrir... nenhuma fechadura à vista, nem nenhuma parede falsa a esconder uma entrada secreta...estiveram muito tempo de volta daquela porta, sem nunca conseguir descobrir nada...
Já tinham desistido quando de repente a sua companheira se encosta à porta e esta faz um click... e, perante os seus olhos, a porta abriu-se lentamente...iluminando os seus olhos extasiados...
Lá dentro, mil e uma promessas de uma boa vida... Sem pensarem sequer no que estavam a fazer atiraram-se lá para dentro e regojizaram-se com a sua sorte, nadando no meio da brancura e dos seus tesouros...
Por isso nem sequer deram pela porta bater, pelas conversas que se aproximavam, nem pelos passos que pareciam como trovões... só se aperceberam do que tinham feito quando viram duas mãos a agarrá-los e uma voz a dizer:
"PINTAS, ÍRIS o que estão a fazer dentro do frigorífico???"

Friday, March 10, 2006

Outros Mundos...

Era um homenzinho insignificante, mas tinha uma peculiariedade interessante: vivia em dois mundos diferentes.
Quando estava acordado, viva no mundo real e não passava de um homenzinho insignificante. Os seus 1m60 de altura e os seus 55Kg de peso não eram de molde a inspirar respeito a ninguém e o seu cabelo pardo e a rarear e os seus olhos castanhos e baços faziam com que fosse ignorado por todos excepto para fazerem pouco dele. Nunca tinha tido uma namorada e o seu patrão na loja de tintas onde trabalhava, guardava todas as tarefas mais ingratas e mesquinhas para ele, apoiando os seus colegas de trabalho em todas as oportunidades que surgiam para o rebaixar.
Mas quando dormia, no Mundo dos Sonhos, a história era outra! Nesse mundo tinha descoberto uma tinta que quando utilizada sobre qualquer item da sua indumentária o tornava completamente irresistível para os outros. Todos, homens e mulheres, faziam todo o possível para lhe serem agradáveis. Nesse mundo, se queria um bem qualquer bastava apresentar-se no respectivo fornecedor e, educadamente, exprimir o seu agrado em possuir tal ou tal item e, de imediato, o bem lhe era entregue pelo dono do estabelecimento com um sorriso de agrado. Se queria dançar com uma mulher bastava-lhe exprimir o desejo de o fazer e de imediato, quer ela quer o seu acompanhante (caso existisse), saltavam de alegria por lhe poderem ser agradáveis. Enfim, era um mundo maravilhoso.
Um dia o patrão reparou que não tinha vindo trabalhar. Como ele não dissesse nada, pediu a um seu colega o favor de passar pela casa dele para o amesquinhar e envergonhar por ter faltado. O colega em vão tocou à porta pois ninguém apareceu. Após três dias consecutivos de faltas, sem água vai nem água vem, o patrão participou à polícia o desaparecimento. Os polícias arrombaram a porta do seu pequeno apartamento mas em vão, nem sinal dele.
Desde esse dia ninguém mais ouviu falar nele. Mas, de vez em quando, aparece nos sonhos de diversas pessoas, um indivíduo baixinho e desconhecido a quem o sonhador tem um desejo irressistível de ser agradável...

Thursday, March 09, 2006

Os Namorados

Já não aguentava mais. Era insuportável passar pelo jardim todos os dias e vê-los sempre, dia após dia, ele com a cabeça sobre o regaço dela, a mão dela a acariciar os cabelos dele e ele olhando-a com um olhar de constante paixão. Não, era verdadeiramente inconcebível que ela amasse aquele outro e não a ele que tinha uma posição de destaque na sociedade, era de boas famílias, tinha um físico irrepreensível enfim era um bom partido de qualquer forma que se examinasse a questão. Naquele dia, se eles lá estivessem, ele ia acabar com aquele namoro de uma vez por todas.
No dia seguinte os cabeçalhos dos jornais locais diziam: Proeminente médico é preso pela polícia não sem primeiro ter praticamente destruído a estátua “Os namorados” doada à cidade pelo famoso esculptor Sculptwell. Pensa-se que se trate de um caso de insanidade temporária.

Wednesday, March 08, 2006

8 de Março Dia da Mulher

Matthew Cuzack já se tinha cruzado com pelo menos uma boa dúzia de lindas mulheres e todas elas levavam flores. O que haveria de especial nesse dia? Começou a pensar … qual seria a celebração hoje? Dia do malmequer?
Dia 8 de Março para ele era uma semana antes da ida ao veterinário com o seu cão, era 15 dias antes da reunião de condomínio (grande seca … a propósito) e de resto era um dia vulgar achava ele. Dia 21 era o dia da árvore, mas …dia do malmequer?
Entrou numa florista para tentar averiguar o que se passava, foi logo bombardeado pela florista que lhe perguntou
– É para oferecer a alguém que ama? Posso sugerir umas Rosas Vermelhas significam amor, respeito, adoração, ou então se for para alguma amiga especial sugiro umas Rosinhas Coloridas com predominância das cores claras, por outro lado se quiser presenteá-la com uma orquídea, fica sempre bem… sabe que é o símbolo da beleza feminina? Se for só para alguma amiga muito alegre sugiro-lhe um arranjozinho com um Girassol que é o símbolo da alegria e é muito baratinho. Se for para oferecer a uma menina mais nova então sugiro a Margarida que é baratinha e significa inocência costumam aliás chamá-la de flor das crianças. Que me diz?
O jovem Matthew olhou para a mulher perplexo e atordoado com aquela injecção de informação que tinha levado e disse ainda a refazer-se daquela enxurrada de palavras
- Bom eu só queria saber, porque é que hoje todas as mulheres que tenho visto na rua andam com um malmequer, é dia do malmequer? Isso existe?
A florista, muito desiludida, vendo já o negócio como perdido disse muito aborrecida – Ó meu caro Senhor, não sabe que hoje é Dia da Mulher!
Nesse dia quando chegou a casa levava um ramo com 1 Girassol, várias Rosas Vermelhas e Brancas e claro 3 grandes Margaridas a envolver o Girassol. Junto vinha um bilhete que dizia, “ Por seres a mulher mais bela e eu te amar e respeitar tanto, queria que continuasses a ser a minha maior amiga e que me continuasses a contagiar com a tua alegria de criança inocente que eu tanto gosto”
A mulher ao ver o ramo e a dedicatória ficou sem palavras, ele calmamente estendeu a mão e disse-lhe - " hoje não fazes cozinhados vamos jantar fora". No caminho para o restaurante a rádio do carro tocava, muito apropriadamente, o "Woman" do John Lennon.

Monday, March 06, 2006

Até os anjos deviam estar zangados














Eu estava muito triste...
E naquele dia, até os anjos deviam estar zangados
Havia no ar aquela inquietude que existe
Quando algo que não devia acontecer... acontece

A chuva batida a vento fustigava-me a cara
E molhava cada milimetro do meu ser
Eu esperava que todo aquele ritual terminasse
E a dor ... aquela ... a mais profunda ... começasse

Humanamente, o que tinha acontecido
era uma estupidez... inexplicável
por isso, procurei a explicação noutro lado
mas isso em nada alterara o quanto eu estava desiludido...zangado

E quando o vi descer à terra, senti-me como que puxado
Não só por esta, mas por todas as vezes anteriores...
Com o peso da terra já a sufocar pensei que nada iria adiantar
Por isso ergui-me, e mais uma vez retomei o meu caminhar

Isto não quer dizer que esteja contente...
Ou que tenha encontrado uma explicação
Quer apenas dizer que ... não sabendo o que fazer
Continuar... me parece a melhor solução.


Em memória do Luís César

Sunday, March 05, 2006

obra prima...

Ali estava ele, a sua obra prima, fruto de uma boas horas de trabalho. Afinal de contas tinha sido necessário repetir todos os passinhos vezes e vezes sem conta para ter a certeza que tudo estava perfeito. Como lhe custara estar quieto a ver ser construído a primeira vez para apenas ser desmanchado logo a seguir, para que tudo fosse compreendido e assimilado... Como fora bom tê-lo construído a primeira vez com as suas mãos, embora não fosse perfeito... Mas agora tudo estava a ir pelo bom caminho... depois de ter deitado tantos materiais fora e ter perdido boas oportunidades para ir passear com os seus amigos...
Parou e observou-o (em jeito de pintor que observa a sua obra) e decretou que estava tudo pronto, estava finalmente acabado... A luz resplandecia na brancura da sua figura, erguendo-se imponente a majestoso...
Pegando-lhe com todo o cuidado, e sob o olhar sorridente de sua mãe, o menino levou o barquinho até ao lago, baixou-se e com um sorriso pô-lo na água para o ver navegar...

Friday, March 03, 2006

Escolhas



Sempre que dizia que trabalhava para o F.B.I. as reacções dividiam-se entre 2 vertentes. Aqueles que ficavam perplexos e aqueles que gozavam a situação. A maior parte das vezes optavam pela 2ª vertente, talvez pelo seu aspecto fraco, franzino, patético até. As piadinhas sobre o F.B.I. eram sempre as mesmas – “Trabalhas para o F.B.I.? deves ser algum “Female Body Inspector, não?”
No dia 17 de Agosto de 2008 tinha sido chamado à sede para mais uma missão com o seu parceiro. Estudado o perfil do indivíduo que tinha que ser interrogado, caiu-lhes a eles em sorte o interrogatório. Dirigiram-se para a sala já com a rotina combinada, como aliás sempre faziam.
O seu colega de equipa tinha os traços físicos opostos aos dele, alto, musculado, um semblante frio e calculista que faziam adivinhar alguém muito metódico e cuidadoso, podia dizer-se que eram como a noite e o dia.
O indivíduo era um psicopata que era suspeito de saber algo sobre o assassino de mais de 20 mulheres, que tinha andado durante os últimos anos a brincar com eles.
Passados 15 minutos de interrogatório conduzido pelo seu colega, sem nenhum resultado obtido, entrou em acção. Tomou conta do interrogatório e depois passados alguns instantes, ele e o parceiro desentendiam-se e aí começava o martírio dele ... mas o que é que podia fazer… era para isso que lhe pagavam.
E assim foi, o parceiro começou a desancá-lo, para (e segundo o estudo do perfil prévio do psicopata) que o interrogado tivesse muita pena dele, e a seguir confessasse tudo o que sabia por solidariedade para com o mais fraco.
Era realmente um trabalho muito chato, ainda por cima porque o seu companheiro de equipa levava o seu trabalho muito a sério…
Nesse dia, ainda por cima, tudo correu mal. É que, a meio do interrogatório, o psicopata inesperadamente, ou então por erro de quem avaliara o seu perfil, reagiu à surra que o seu companheiro lhe dava não com pena, mas saltando também para cima dele para o sovar. O seu companheiro de equipa, que nunca gostava de ficar atrás nestas coisas em vez de tentar parar o malandro, bateu-lhe ainda com mais força.
Já no hospital, com 7 costelas partidas, alguns hematomas e uma sensação geral de mau-estar, pensava como toda a sua vida teria sido diferente se, há uns anos atrás em vez de entrar para o F.B.I, tivesse aceite aquele emprego na lavandaria do bairro. Enfim… escolhas…

Thursday, March 02, 2006

Promessas de amor...

O detective John Fresnick deslocou-se ao Stand de vendas de automóveis porque tinha ocorrido algo estranho… inexplicável até.
A empresa de seguros “Accidents will happen” recebera uma participação estranhíssima em que o dono do stand dizia que uma motorizada de alta cilindrada e um descapotável topo de gama tinham sido vandalizados sem ter havido tentativa de roubo. No entanto, chamaram a polícia, e por isso, ele ali estava.

Sabia agora, ao conversar com o dono do stand, que tudo se tinha passado durante a noite, não havia fechaduras forçadas e que quem quer que tivesse feito aquilo tinha-se limitado a fazer bater a motorizada contra o carro sem sequer causar grandes danos. Era tudo muito estranho!!! Talvez a falta de espaço justificasse que a velocidade que a motorizada conseguira adquirir, quando bateu contra o carro, fosse tão pequena e daí os danos serem menores. De qualquer forma, o único suspeito era um empregado que tinha desde sempre mostrado um interesse especial na moto e que, assim que viu o que tinham feito à sua motorizada preferida disse a chorar que ia já tratar de a arranjar.
Tomou conta da ocorrência e nunca mais pensou no caso.
Cerca de 2 meses depois, ia no seu carro calmamente a ouvir rádio quando foi chamado a uma ocorrência correspondente a um acidente na auto-estrada A34. Quando lá chegou verificou que o cenário não era nada bonito. Encaminhou-se para um jovem que estava sentado na berma olhando estupefacto para aquele cenário Dantesco e começou a interrogá-lo.
- Então … é capaz de me descrever o que aqui se passou?
O rapaz gaguejando e parando muito entre cada palavra, lá foi explicando que tudo tinha acontecido rapidamente, quando o condutor da motorizada, inexplicavelmente se tinha ido enfaixar na parte traseira da camioneta, tendo sido a sua cabeça decepada imediatamente e tendo saltado para dentro do descapotável que seguia aí a uns 4 metros atrás. O condutor do descapotável, ao ver a cabeça no banco ao lado do seu, perdeu o controlo e embateu violentamente contra a moto e a camioneta, resultando daí a morte imediata também do condutor do descapotável.
John Fresnick tomou notas de tudo o que o jovem foi dizendo e depois dirigiu-se com alguma repulsa para junto dos destroços onde ainda estavam os corpos e o metal retorcido fumegante. Para seu grande espanto, reconheceu a cara, ou melhor a cabeça, do empregado que entrevistara 2 meses antes no stand e com maior surpresa ainda verificou que a motorizada e o descapotável eram os mesmos que antes tinham sido protagonistas daquele acidente estranho. Fechou o seu bloco de notas e foi para casa. Nessa noite, os seus sonhos foram esquisitos.
Na sucata ouvia-se já há algumas noites, na realidade desde que tinham trazido os restos do terrível acidente, um raspar de metal contra metal e quem se aproximasse bem perto daquele metal retorcido talvez conseguisse ver que a motorizada e o carro formavam 1 só, como aliás tinham prometido um ao outro 2 meses atrás…

Monday, February 27, 2006

Diario 3

O condutor buzinou violentamente enquanto praguejava ferozmente contra aqueles energúmenos que não andavam nem deixavam andar. Claro que a infindável fila de trânsito nem por isso se moveu mais depressa...
Na sua estação de observação, o extra-terrestre desligou o visor e deu início a mais uma entrada no seu diário de observações sobre o terceiro planeta:

- A religião destes seres é muito espalhada e parece que a levam muito a sério. Têm uns cubículos de profissão de fé nos quais se introduzem para participar em longas procissões que se deslocam lentamente durante longas horas. A fé é tão intensa que frequentemente ficam congestionados, ficando a sua fisionomia transtornada com os repentes tão fervorosos de fé. Esporadicamente retiram-se da procissão, entregando-se a outras actividades mas voltam a entrar na procissão mais tarde. A maioria dos seres faz parte de uma procissão pelo menos duas vezes em cada ciclo diurno e muitos deles consideram a participação nestes actos de fé como uma actividade solitária, apesar de outros haver que o fazem em grupo. Durante o ciclo nocturno existem alguns pares de seres que utilizam o cubículo religioso para praticarem uma espécie de fusão que deve corresponder a uma troca profunda de ideias sobre o bem espiritual que retiraram individualmente da participação na procissão durante o ciclo diurno que findou. Fim de registo.

Pensativo, meditando nas diversas formas que a fé podia tomar neste Universo, o extra-terrestre desligou o aparelho de registo e enfiou o dedo central (o quarto) na narina central (a quinta), adoptando a posição que a sua religião preconizava para a meditação transcendental...

Wednesday, February 22, 2006

O vampiro

O vampiro escondeu-se mais cuidadosamente na penumbra que a esquina do edifício criava, esforçando-se por se tornar indetectável à luz do luar. Observou com gula o vulto humano que se aproximava, avaliando pelo tamanho a quantidade de sangue que iria beber. Infelizmente, tratava-se, evidentemente, de um idoso que não lhe iria dar muito alimento, mas como já não conseguia uma presa já há algumas noites pensou que mais valia pouco sangue do que nenhum sangue.
Quando o velhote passou pela esquina onde se escondia, deu um salto, agarrou-o e cravou-lhe os dentes no pescoço. De imediato sentiu que qualquer coisa não estava bem. Sentiu as forças a escaparem-se-lhe, como se tivesse sido envenenado. Fraco, caiu no chão, com a não-vida a escoar-se, a morte definitiva a tomar conta daquele corpo já tão antigo.
O velhote, fugiu a correr, tão depressa quanto conseguia, sem saber o que lhe tinha salvo a vida, o que o tinha livrado daquele monstro tão aterrorizador. Enquanto corria pensava para si mesmo: Bolas, se moresse esta noite não tinham servido de nada aquelas injecções de extracto de alho, que me custaram tanto a tomar, para retardar o envelhecimento.

Partida de Carnaval

Era carnaval e achei que devia pregar uma partida a um amigo.
Bom de facto estava a utilizar este argumento para levar a cabo uma pequena vingança há muito devida. Já era pelo menos a 4ª ou 5ª vez que quando saíamos à noite, o meu amigo Ronaldo (Ron como ele queria ser chamado) desrespeitando todas as regras da boa amizade, me roubava a miúda que eu queria. Sempre que sabia qual era a que eu tinha escolhido nessa noite, pimba, aí ia ele atirando todo o charme para cima dela e conseguia sempre dar-lhe a volta. Desta vez tinha decidido vingar-me... quer dizer pregar-lhe uma partidita de carnaval...
Fui até ao pequeno quiosque, junto à estação do metro, onde recepcionavam os anúncios para o jornal e usando toda a minha imaginação escrevi “OLÁ EU SOU O RON E GOSTAVA MUITO DE CONHECER OUTROS RAPAZES/HOMENS COM OS QUAIS PUDESSE FAZER RON RON, E MOSTRAR-LHES O GATINHO QUE HÁ EM MIM” de seguida escrevi o nº de telemovel do meu amigo Ron e entreguei o papel à rapariga que olhando para o texto que eu tinha escrito me olhou de alto a baixo, tentando tirar-me a pinta, ao mesmo tempo que me perguntava se o anúncio era para a secção de “convivios”. Depois de pagar à moça, fui para casa e esperei o resultado da minha partida.

Nos dia seguinte quando fomos sair à noite já o Ron apareceu com uma cara muito chateada e justificou-se dizendo que devia haver um “libelinha” qualquer que tinha o telemovel quase igual ao dele e que por engano tinha escrito o dele num desses anúncios de jornal, porque já era pelo menos a 9ª vez que lhe ligavam gajos a tentar combinar encontros com ele. Nessa noite ele nem sequer conseguiu roubar-me a miúda que eu tinha escolhido, acho que nem sequer conseguiu conquistar nenhuma - o gajo estava mesmo mal.
Nos dias seguintes as poucas vezes que o Ron apareceu, dizia sempre que nunca tinha imaginado que houvesse tanta “libelinha” desesperada, porque todos os dias recebia centenas de telefonemas.
Cada vez o fui vendo menos vezes até que passado cerca de 1 mês sem lhe pôr a vista em cima, lhe telefonei a combinar uma saída à noite, imaginando eu que o efeito da minha pequena partida já tivesse passado.
Quando à hora combinada o vejo entrar no café do Sr. Zé, confesso que não estava preparado para aquilo. Lá vinha ele, cabelinho pintado de louro, óculos escuros à moda a servir de travessão para prender o cabelo, camisinha às flores rosa e amarelas, calcinhas brancas, bem cintadas e sapatinhos a condizer, naquela altura pensei que só faltava mesmo começara a tocar o “Y.M.C.A. dos Village people”. O Ron chegou ao pé da malta e disse – “Olá passarinhos... vamos”...Moral da história ... nunca dês o teu telemovel a ninguém

Tuesday, February 21, 2006

O gene modificado

Tudo começou com as teorias do Dr Aubrey sobre o gene do tamanho das espécies. Este investigador tinha descoberto uma correlação entre o tamanho dos seres de uma espécie e a sua longevidade. Uma série de ensaios permitiram-lhe provar que seres de menor porte na mesma espécie tinham um tempo de vida maior.A seguir tudo se passou numa catadupa de acontecimentos com uma série de centros de investigação a prosseguir esta descoberta. Primeiro um grupo de investigadores da África do Sul que provaram que a cor escura da pele conduzia a um maior tempo de vida, relacionando esse facto com a menor exposição aos raios ultravioleta do sol.

O passo seguinte foi a inibição dos genes que definiam o caracter ”pele clara” nos seres humanos. Depois os Portugeses de um instituto estatal, descobriram por observações levadas a cabo no instituto, que quanto maior a inactividade dos seres maior a sua longevidade. Com a modificação dos genes responsáveis pela mobilidade do ser humano, veio um novo aumento do tempo de vida. E assim continuaram a inibir ou modificar genes de modo a prosseguir a meta da vida eterna. Tudo isto não se passou em séculos como seria nos tempos antigos, na realidade bastaram alguns anos, porque a tecnologia existente assim o permitia.
Eu que aqui vos narro este passado recente, sou o último, ou um dos útlimos que escolheu não ser imortal e por isso achei por bem (antes de me apagar) deixar aqui o aviso a vós visitantes da nossa terra, para terem cuidado... “tenham muito cuidado”.
A terra apesar de parecer inabitada e pejada de rochas negras está na realidade cheia de seres humanos, aliás posso-vos dizer que não andem aos pontapés às pedras e não é por haver um ser humano debaixo de cada uma delas... é que cada uma delas é um ser humano. Elas são os que escolheram ser eternos.
(Banda Sonora: I am a rock – Simon & Garfunkel

Friday, February 17, 2006

Metafora

Talvez um quadro de Monet ?
Ou um verso de Gedeão ?
Uma melodia de Mozart,
Ou uma singela canção?

Talvez a teoria de Gallois?
Talvez a Vénus de Milo?
Ou uma frase bem escrita,
Ou as pirâmides do Nilo...

Impossível de comparar
À mais fina tecnologia
Pois esta, apesar de bela,
Tem uma beleza fria.

Não, não consigo!
Cheguei ao fim, desisti !
Nada mais posso escrever ...
Nada se compara a ti!

Thursday, February 16, 2006

It's raining cats and dogs

Na rádio do carro tocava uma música calma e a sonolência, como sempre, tinha tomado conta de si. Estava a chover “como o caraças” ou como diriam os Ingleses “cats and dogs”. O carro estava praticamente parado, só a trepidação e o passar da água lhe davam a sensação de movimento.

De repente sentiu algo a bater com força contra o tejadilho e depois logo de seguida contra as portas. Ficou em pânico, 1º pensou que tinha atropelado alguém ou algum animal, mas o carro estava quase parado!!!
A suspeita de que estava a ser vítima de um daqueles malucos que começa a bater e destruir tudo o que o rodeia tomou conta de si, e a sua única reacção foi “tenho que sair daqui”.
Abriu a porta do carro sem conseguir ver nada por causa da água que caia abundantemente e gritando tão alto quanto podia por socorro começou a correr desordenadamente.
O homem da lavagem automática perplexo com aquele maluco que tinha saído a meio da lavagem do carro, a gritar por socorro, só teve tempo para parar a máquina, carregando no botão vermelho de emergência. Não sem antes as enormes escovas laterais terem dado uma bela pancada no individuo tresloucado que tinha saído da viatura.
Depois de devidamente acalmado e socorrido voltou a entrar no seu carro e saiu da máquina de lavagem automática. Estava a sentir-se tão estúpido e tão ridículo que decidiu que tinha que ir beber um café, mas a chuva nunca mais parava. De repente voltou a ouvir um barulho de algo a bater no tejadilho e momentaneamente teve aquela sensação de “déja-vu”… saiu do carro, mas nem um metro tinha andado quando foi atingido por um gato que tinha caído do céu, logo de seguida por outro e por outro e depois por um cão… afinal estava a chover “cães e gatos”

Nada é tão seguro como a Morte e os Impostos

Naquele dia custou-lhe chegar ao emprego. Sentia dificuldade em respirar, os pulmões pareciam não conseguir oxigenar o sangue que fluía pelas suas veias, o que o deixava tonto e ofegante.
Chegado à sua secretária, foi efusivamente recebido pelo sintetizador de voz da sua unidade computacional, que o informou de imediato que o seu chefe queria falar com ele. Preocupado, sempre com dificuldade em respirar, levantou-se e dirigiu-se ao gabinete do seu chefe. Ao aproximar-se, viu, através da divisória translúcida que separava o gabinete do resto do mega-escritório, que estavam outras pessoas no gabinete do chefe. Bateu à porta e esperou que o sinal luminoso passa-se para “entre”. Recebido o sinal verde, rodou o maanípulo e entrou, com a sensação de peso na respiração a piorar com o receio de que algo de grave se passasse.
O Chefe levantou-se da cadeira com ar pesaroso enquanto dois dos indivíduos que se encontravam em pé se deslocavam de forma a interceptar o caminho para a porta, como se lhe quisessem impedir a retirada.
- Tenho más notícias - disse o Chefe - estes senhores estão aqui para falar consigo acerca de um assunto muito grave.
Já muito assustado, recuou um pouco enquanto o que parecia ser o que mandava naquele grupinho se virou para ele e disse, com um sorriso desagradável nos lábios:
- Lamento dizer-lhe mas vamos ter que lhe confiscar a casa, a família e o emprego. - e, envolvendo-o num invólucro estanque ao ar, acrescentou: - O Senhor esqueceu-se de pagar o imposto sobre o ar que respira e portanto acabou de inalar a sua última golfada de ar que será paga ao estado com o dinheiro que se obtiver da venda dos seus bens.
Já a sufocar ainda tentou dizer que tinha o registo do envio do dinheiro pelo correio na mala, mas caiu redondo no chão, morto por falta de ar sem conseguir dizer palavra.
Dois anos mais tarde, os correios indemnizaram a família, entretanto comprada por outro indivíduo, no valor do imposto que se tinha extraviado...

Tuesday, February 14, 2006

Maionaise


Já não havia tempo para se esconderem. Os passos nas escadas estavam demasiado perto, era hoje… iam ser apanhados em flagrante. Com o abrir da porta e a figura da sua mãe à entrada acabaram-se 3 meses de encontros furtivos, mas muito deliciosos.
A mãe dela quando a viu a tentar tapar o peito com o lençol, gritou – “Malditos sejam… a partir de hoje nunca mais vão poder juntar-se, tal e qual como o óleo e o vinagre podem estar no mesmo prato mas não formam um só”, depois mais resignada disse “ e tu menino sai”.

A mãe dela “medium” de renome, bruxa nas horas livres nem se apercebeu do que tinha feito. Na realidade, para ela a sua filha tinha fugido com o namorado, mas na sua despensa a verdade era outra. Havia duas novas garrafas na 3ª prateleira a contar de cima, uma de vinagre com um formato curvilíneo, um rótulo vistoso e um vinagre de paladar apetecível e outra garrafa mais alta cheia de óleo. E ali ficaram as duas garrafas uma ao lado da outra, viam-se todos os dias, todo o dia. Era doloroso, não se conseguiam tocar e mesmo quando iam servir à mesa, sabiam que juntos estariam no prato mas que nunca poderiam ser um só. Ele já tinha pensado em rançar, para ver se os ésteres formados lhe permitiriam tornar-se miscível com o vinagre, mas tinha muito medo da transformação afinal que parte de si é que se alteraria.
Assim viveram 2 meses, até que um certo dia o novo namorado da Sra. Plum os foi buscar à despensa. Ele sentiu-se atirado para dentro de um recipiente onde já estavam 2 ovos batidos … a sensação foi agradável, mas o melhor estava para vir. Quando sentiu o fio de vinagre começar a cair no meio deles (óleo e ovos) começou a sentir que afinal tudo ainda era possível, o seu grande amor estava finalmente com ele mais uma vez, e “mmmmaaaaaannnnn” como foi bom, houve muita química presente entre aqueles 4, mas sobretudo entre ele e ela.
O novo namorado da Sra. Plum, muito desgostoso resmungou - porque é que esta porcaria às vezes não resulta… lá vai mais uma dose de maionaise para o lixo.

Friday, February 10, 2006

A Rainha do Lago Constance

Nesse dia tinha decidido ir fazer a sua ginástica à beira do lago Constance, há já muito tempo que não ia para aquelas bandas e pensou em aproveitar ao máximo a belíssima paisagem. Quando estava a fazer a sequência de flexões de pernas contemplando a calma do lago pareceu-lhe ver a imagem de uma belíssima mulher submersa dentro da água límpida do lago a uma distância de uns 6-7 metros. Olhou com mais atenção e verificou que de facto ela estava lá, parecia sorrir para ele. Era lindíssima, olhos azuis, cabelo castanho longo e uma figura esbelta, da qual se conseguia aperceber com alguma dificuldade pois o trajo antiquado que usava, dissimulava as formas do seu corpo. Chamou-a várias vezes para captar a sua atenção, mas ela provavelmente por estar submersa não conseguia ouvi-lo. Lembrou-se de acenar, e pareceu-lhe que ela também tinha mexido o braço como que para responder ao seu aceno, mas nessa altura uma corrente do lago turvou a água e quando a procurou outra vez, já não conseguia avistá-la. Procurou desesperadamente, mas não a conseguiu ver outra vez. Pensou deitar-se à água para procurar, mas não sabia nadar, além disso pelo sorriso que ela tinha na cara não estava de certeza aflita. Seria ela a famosa dama do lago Constance?

Correu para casa, ligou o computador e mesmo antes de tomar banho pesquisou na Internet pela lenda da dama do lago Constance. Teve alguma dificuldade em encontrar qualquer coisa sobre o assunto, porque na realidade a lenda falava de uma rainha e não de uma dama do lago, mas após alguns minutos encontrou o que pretendia, e após leitura cuidada da informação que colectou chegou à conclusão que deveria ter sido mesmo a rainha do lago que avistara. A lenda dizia que o homem que a conseguisse tirar do lago teria a fortuna de ser o homem mais feliz do mundo. Ficaria eternamente junto a ela.
Decidiu ir procurá-la novamente, mas desta vez ia preparado, levava uma lanterna e uma vara comprida para esticar até ela, para que ela pudesse agarrar e vir até si. Depois de lá chegar dirigiu-se para o local onde antes a tinha avistado e esteve à vontade mais de 3 horas à sua procura, até que viu novamente a esbelta figura. O seu coração começou a bater fortemente, enquanto molhava as pernas até aos joelhos entrando na água fria do lago. Esticou a vara na direcção da sua rainha, mas depressa se apercebeu que ela ainda não o tinha visto, pois movia-se de um modo sereno ao sabor das correntes. Na sua pesquisa tinha lido que à rainha do lago chamavam também senhora das correntes, porque dizia a lenda, ela comandava as correntes do lago. Por isso mais uma vez acenou para a chamar, fazendo a vara bater na água e provocando algum turbilhão para lhe chamar a atenção. Quando finalmente ela se começou a deslocar na sua direcção deslizando serenamente ao sabor da corrente e se aproximou que chegue para ele a alcançar verificou que a sua aparência estava modificada, estava com uma cor estranha, e não tinha tão boa aparência como da primeira vez.
Com algum esforço puxou-a para fora de água e rapidamente a largou outra vez, quando verificou que se tratava de um manequim em plástico. Mas o seu braço tinha ficado preso no braço saliente do manequim e foi arrastado para dentro do lago. Tentou desesperadamente soltar-se mas não conseguiu. Foram, ele e o manequim, arrastados para o meio do lago e ali ficaram… juntinhos … inseparáveis.

Wednesday, February 08, 2006

O criador de vermes


Só recebia visitas, de quando a quando e quem lá ia geralmente não voltava. Dizia a quem lá ia, com muito orgulho, que era o único criador de vermes daquele tipo. Quem o procurava eram amantes da pesca que sabiam que aquele tipo de verme era garantia de uma grande pescaria.

A todos fazia questão de se gabar de possuir a maior colecção de cartas coleccionáveis de um jogo, que a todos tentava impingir sem sucesso. Sempre que alguém lá ia, começava por tentar interessar a pessoa no jogo (o que geralmente era um fracasso), tentava depois propor um jogo de experiência (por vezes até chegava a oferecer o valor (incalculável) correspondente aos vermes que a pessoa ia comprar). E finalmente quando já tudo o resto tinha falhado, fazia questão de mostrar a sua colecção.
Todos reparavam que a partir da folha 143 todas as restantes folhas com saquetas onde guardava as cartas estavam imaculadas, como se raramente fossem mexidas, enquanto as primeiras 143 folhas se apresentavam sujas e sebosas.
Nesse dia, e após 17 dias sem avistar ninguém, deslocou-se “à sua parte do mundo” um jovem que queria comprar os afamados vermes que ele criava com tanto cuidado e de um modo que mantinha secreto.
A rotina foi a mesma. Quando já estava a mostrar a colecção de cartas, e o jovem lhe fez a mesma pergunta de sempre “porque é que a partir daqui as folhas estão tão limpas?” respondeu calmamente “já vai perceber, meu caro” e desviou-se um pouco para pôr uma música. Chegados à folha 143 o rapaz reparou que nessa folha havia uma única carta na saqueta central da folha e aproximando os olhos da folha suja tentou ler o nome da carta … “Criador de vermes” o rapaz reparou como era espantosa a semelhança da fisionomia da imagem retratada na carta com a do seu interlocutor. Foi aliás a última coisa que ele reparou, pois a seguir sentiu uma enorme pancada na cabeça. Já não teve tempo para ler o texto que estava escrito por baixo da imagem e que dizia “ Foge enquanto podes porque ele vai matar-te... e utilizar a tua cabeça como caixa para criar vermes, e as tuas entranhas para os alimentar”.

Tuesday, February 07, 2006

The magic-lick

Este é um pouco extenso. Não sei se funcionará....

A banda acabou a actuação e começámos a arrumar os instrumentos. Tinha sido uma noite boa. Durante o último tema, tinha havido um momento em que quase senti que tinha conseguido! Olhei para os meus companheiros musicais e pareceu-me ver um sorriso trocista nos lábios do baixista. Quando me viu olhar para ele disse, já a sorrir abertamente:
- Não me digas. Durante este último solo sentiste que estavas quase a conseguir o magic-lick...
Era uma brincadeira recorrente entre eles, esta minha procura pelo magic-lick. Mas para mim não era brincadeira nenhuma. Estava sinceramente convencido que se conseguisse encontar a combinação correcta de notas, ritmos e silêncios haveria de conseguir o lick perfeito. E ele seria mágico levar-me-ia aonde eu quisesse ir. Levar-nos-ia a todos! Já não era a fama ou a fortuna que contavam, era só a pureza e a felicidade que estariam contidos naquela linha perfeita de guitarra. E hoje tinha estado tão perto... Tinha que continuar a estudar, continuar a aperfeiçoar-me, continuar a exceder o que já tinha feito. Talvez em breve conseguisse obter o magic-lick?
Ao ver a minha expressão de desapontamento, o baterista deu uma cotovelada no baixista e disse:
- Estás cada vez melhor! Acho que já não deve ser possível ninguém tocar guitarra melhor do que tu! Neste último solo tiveste-os todos na mão. Eu até me passei...
Olhei-o com um sorriso de agradecimento e disse-lhe que ele era um gajo porreiro. Mas no meu íntimo sabia que ainda não tinha sido desta...
Saímos do bar onde tinhamos actuado, arrumámos tudo na nossa carrinha e dirigi-me para casa, despedindo-me do resto da banda, pois eles iam levar o material (a minha guitarra incluída) para o armazém onde o arrumávamos.
Caminhei pelas ruas, distraído, sempre com aquela linha de guitarra na mente, nos lábios, nos dedos, em todos os recantos dentro de mim. Tinha sido quase, faltavam só umas notas, umas pequenas alterações de ritmo, sentia que estava mesmo quase! Quase que podia sentir e ouvir o magic-lick. Tinha que estudar mais, tinha que melhorar mais ainda a técnica! E aquelas notas, que me pareciam imperfeitas, mas quase-perfeitas ao mesmo tempo, não me abandonavam nem um momento.
Passei por um pedinte com o seu prato de plástico - onde se encontravam já algumas moedas - no chão à sua frente. Ia tão distraído que, eu que geralmente não dou esmola pois sou contra a indigência, tirei umas moedas do bolso e dexei-as cair no prato do mendigo. E ao caírem, o seu tilintar confundiu-se com as notas que me ressoavam no cérebro e foi como se um interruptor tivesse sido ligado! Era isso, tinha acabado de ouvir o magic-lick! Tinha conseguido! Só faltava conseguir tocar aquilo na guitarra!
Desatei a correr feito louco, maldizendo-me por não ter trazido comigo a minha fiel guitarra. Tinha que chegar a casa depressa, não me podia esquecer daquela frase perfeita! Atravessei ruas sem olhar e sem abrandar, arrancando imprecações dos condutores que tinham que travar abruptamente, atropelando os peões, albarroando tudo o que se metesse no meu caminho. Tinha que chegar a casa para ver se conseguia tocar na guitarra o magic-lick! Naquela noite, a Musa dos músicos devia estar a proteger-me, pois deveria ter morrido mais de cem vezes naquele percurso, se as regras estivessem em vigor para mim.
Entrei desabridamente pela porta de casa e fui “atacado” pelo meu querido cão (um grande Serra-da-Estrela) que se atirou a mim cheio de contentamento em ver-me. Parei para tomar fôlego e... esquecera-me do meu lick! Não, não podia ser! Durante aquela corrida desmedida, tinha-se evaporado da minha mente! Oh não! Ter tido a perfeição ao alcance e tê-la deixado escapar.
Maldizendo o meu destino, baixei-me para fazer umas carícias ao meu companheiro, que desconhecendo os meus azares, abanava a cauda e pedia brincadeira. Ao fazer-lhe uma festa, a coleira metálica que usava ao pescoço tilintou e... magia, lá estava outra vez o magic-lick. E tinha sido o meu querido Sam, com a sua fome de brincadeira que mo tinha devolvido. A transbordar de alegria, abracei-o, sem querer deixar de recompensar aquele cão maravilhoso que para além de excelente companhia me tinha devolvido o meu lick! Corri, aos pulos, para a sala onde tenho a minha guitarra e comecei a tocar o meu lick. Bolas, não conseguia tocar o que tinha acabado de ouvir. Qualquer coisa me estava a escapar! Devia ser uma falha da minha técnica. O lick existia, eu só não o conseguia executar! Desanimei! Era demais! Ter tudo ao meu alcance e tudo perder... Deixei-me cair, desalentado, no sofá e passei as mãos sem pensar pelas cordas da minha amiga guitarra, pensando naquelas notas perfeitas. Da janela, chegaram-me os risos de umas crianças que brincavam no jardim e os meus dedos reagiram inconscientemente a esse estímulo, tentando emular aqueles risos com as cordas, ao mesmo tempo que tocava distraidamente as mesmas notas que tinha tocado anteriormente.
E foi o extâse! Tinha conseguido. Aquele lick que me tinha fugido tantas vezes, que a minha técnica não tinha conseguido capturar estava ali, saindo dos meus dedos enquanto tocavam distraídos, alheios à minha vontade. Foi aí que percebi: o magic-lick não era uma questão de técnica, não era uma questão de esforço ou treino. Não que este não tivesse sido importante pois de outra forma nunca teria podido tocar as notas que estava a tocar, mas era sobretudo uma questão de sentimento. Daí que fosse ao dar as moedas ao mendigo, sem pretender nada em troca (nem sequer a salvação eterna), ao fazer festas no meu querido companheiro de quatro patas ou ao ouvir os risos das crianças que ele me tinha soado no cérebro.
Agora percebia tudo! Devia tocar sempre com o corpo todo, com o sentimento todo e não só com as mãos, o cérebro e a mestria técnica que se adquire com o treino. E continuei a tocar aquela linha na guitarra, que enchia a minha casa, enchia a minha alma e transbordava para o resto do mundo, enchendo-o com a música perfeita, inadulterada que iria desse dia em diante fazer as delícias de quem me quisesse ouvir e de quem a quisesse tocar.