Friday, December 30, 2005

Um quadro

A borboleta levantou voo, impulsionada pelas suas delicadas asas translúcidas. Esvoaçou, procurando um novo poiso. As cores das suas delicadas asas misturavam-se naquele movimento harmonioso, exalando uma sensação de graça e de elegância em harmonia com aquela manhã de Primavera.
Como se quisesse atingir regiões nunca antes atingidas elevou-se pelos ares, sempre agitando aquelas formosas asas que pareciam demasiado frágeis até para se impulsionarem a si mesmas. Subiu e subiu e continuou a subir até desaparecer da vista da criança que tudo observava e que se quedou, maravilhada com aquele fenómeno de cor e vida que constituía para ela mais um dos pequenos deliciosos mistérios da sua ainda tão curta vida.

Love hurts


A auxiliar Elvira era muito querida de todos os utentes daquele centro de saúde, na realidade todos diziam que tinha um coração de ouro e umas mãozinhas de fada. Cada vez que algum dos pacientes precisava de um tratamento de fisioterapia era a ela que desejava ardentemente ter como fisioterapeuta. Também toda a gente sabia que ela não sendo uma mulher muito vivida nas coisas do amor, quando se apaixonasse deveria ser a maior das doçuras para o felizardo que a conseguisse encantar, e isso tinha acontecido ao bom do Benjamim que tinha nesse dia decidido fazer uma visita à sua amada.

Elvira estava a ajudar uma senhora de 83 anos a recomeçar a andar, amparando-a com força mas ao mesmo tempo ternura, para que ela se sentisse à vontade para voltar a por as pernas a funcionar. Sozinha nem um passito conseguia dar, mas com a ajuda de Elvira já tinha andado cerca de 1,5m. Esta senhora era muito importante para Elvira, uma vez que tinha sido ela que lhe tinha apresentado Benjamim, por isso quando viu a cara do seu amor através do pequeno vidro da sala de fisioterapia, sentiu um enorme calor percorrer o seu corpo e um arrepio fazer tremer toda a sua essência, e sem resistir ao impulso amoroso, levantou os dois braços correndo para a porta para abraçar o amor da sua vida.
Moral da história – o amor dói – que o diga a velha que ficou estatelada no chão e que partiu as 2 pernas, a bacia, 1 clavícula e 3 costelas com a queda.

Thursday, December 29, 2005

texto longo...há muito tempo que não escrevo...

Há muito tempo que não escrevo...nem poemas, nem textos, nada...talvez porque não tenha inspiração, mas mais do que isso, porque tenho sobre mim uma tristeza inabalável, que não se vai embora...
Todos os dias levanto-me simplesmente porque me obrigo a tal, não porque queira, não porque goste, não porque tenha curiosidade de ver o novo dia, nem porque tenha um alguém à espera... simplesmente porque me obrigo a tal...porque prometi, porque combinei...porque tenho a responsabilidade... Parece-me que algures no meio, perdi qualquer coisa, perdi a vontade de sorrir, ou algo do género, há um vazio muito grande, e não me consigo lembrar do que estava lá a preenche-lo...
Hoje não foi diferente, passei pelo mundo cinzenta e calada, a fazer o que me competia e a ouvir quem queria ser ouvido...uma inércia gigantesca sempre a pairar sobre o meu corpo (se calhar é do meu peso...) e uma tristeza entranhada na alma...e depois...depois disseram-me...escreve um postal para a tia...
Não sei se foi o relembrar da escrita, se foi a imaginação que estava acumulada ao fim de tanto tempo de espera, mas dei comigo a começar a escrever este texto (em vez de escrever o postal da tia...mas no fim também acabei por o completar...).
Talvez seja um desabafo, ou apenas uma constatação...mas a verdade é que é que a vida parece-me cada vez mais triste, mais afastada daquilo que conhecia...as pessoas mudam, é um facto inegável, mas há coisas que não o deviam fazer...
Acho que as pessoas deviam ser capazes de fazer uma cara feia e a seguir partir-se a rir...deviam capazes de pedir a mão quando estão sozinhas ou têm medo...deviam querer cantar alto, simplesmente porque o gostam de fazer...e deviam procurar as pessoas que lhes fazem falta, mesmo que elas tenham desaparecido por pouco tempo...porque não pedir o que querem, porque talvez até o consigam...ou então divertir-se com um simples guardanapo de papel...e fazer os outros rirem-se com isso...as pessoas deviam ser capazes de se surpreender com o mundo e obviamente com uma fonte...não porque é correcto, responsável ou espectável...mas porque há uma parte de nós que nunca deve ser deixada morrer...
Bem sei que eu não faço isso, estou longe de ser perfeita e, ao contrário do que as pessoas pensam, não estou minimamente contente com aquilo que sou, há demasiado em mim para mudar, para aprender...mas há uma coisa que espero que nunca mude...espero que seja sempre capaz de me espantar com aquilo que o mundo tem para ensinar, principalmente uma criança...para que aquela zona do nosso cérebro que não para de falar e de dizer coisas nunca despareça...porque a vida é demasiado curta para podermos dar-nos ao luxo de cair na tristeza, no desânimo ou abandono...porque simplesmente não podemos deixar de acreditar que existe sempre um anjo ao pé de nós que nos guia e nunca nos deixa sozinhos...embora às vezes pareça...porque dentro de todo o azar existe uma sorte e no final de tudo...quando lá chegarmos ver-nos-emos todos outra vez...

e pronto...é diferente...se chegaram até aqui parabéns...espero que tenham gostado...

Tuesday, December 27, 2005

O Tempo...

Há quem diga que só temos a percepção do tempo devido ao facto de existirem uns espaços vazios entre as sinopses dos neurónios o que faz com que os impulsos nervosos não sejam transmitidos instantaneamente. Extrapolando, poder-se-ia concluir que quanto mais complexo/extenso for um sistema nervoso, mais tempo levam os impulsos nervosos a serem transmitidos e daí, diferentes percepções do tempo. Quererá isto dizer maior ou menor inteligência?
Usualmente somos ufanos da nossa rapidez de raciocínio, mas se isto é realmente uma qualidade a desenvolver, quererá isto dizer que uma paramécia unicelular é mais inteligente do que nós? É que, nela, a informação (não se pode falar de impulsos nervosos pois não tem sistema nervoso) está imediatamente acessível. E um animal pequenino, com sistema nervoso central? É mais rápida a transmissão dos impulsos! Será ele mais inteligente do que um humano? Talvez isso nem interesse!
Eu, por meu lado, sempre recusei fazer testes de medição do Q.I. pois poder-me-iam dizer que sou estúpido o que me retiraria o direito moral de ensinar, e eu gosto muito de ensinar. Isto para dizer que esta coisa da “inteligência” é um pouco obscura, mal definida.
As afirmações feitas no início deste texto permitem-nos, no entanto, fazer uns raciocínios curiosos. É sabido que, em geral, os animais de menor envergadura têm menor tempo de vida. Será que isto está ligado com o tempo passar de forma diferente para eles (pela razão arás indicada)? Será que numa escala de tempo universal (não a dos referenciais da física) todos os seres vivos vivem um mesmo tempo (à parte os acidentes e as doenças, claro) só que com um passo diferente? Será que o compto de todas as experiências de um ser vivo é mais ou menos constante, só se pode viver menos tempo e mais depressa ou menos tempo e mais devagar? Se eu tivesse que escolher, não sei qual escolheria...
Podemos mesmo generalizar. E se as mortes precoces (as tais doenças, os tais acidentes) sucedem exactamente porque esses seres vivos viveram mais intensamente que o normal? Tudo isto dá que pensar...

Saturday, December 24, 2005

E o Pai Natal veio...

Este espaço tem estado um pouco ao abandono, também por minha culpa e da minha falta crónica de tempo para fazer o que quero. E eu quero escrever aqui! Quero que este blog continue sempre a fervilhar de ideias novas, engraçadas ou nem por isso, boas ou talvez não... mas cheio delas.
Assim escrevo aqui este texto, hoje, para desejar um Bom Natal a todos os que aqui vierem e ao próprio Blog (pobrezinho, tem andado tão sózinho) e para reafirmar a minha sincera intenção de voltar a animar isto com muitos textos, nesta época de boa vontade.
Feliz Natal e Boas Festas!

Monday, December 12, 2005

Windy City

Era uma cidade do velho Oeste, completamente abandonada depois de se ter extinguido o veio que alimentava a mina em torno da qual a cidade se formara. Toda a população a tinha abandonado. Até os animais evitavam o local. Nem sequer havia fantasmas. Deserto total, nem um só ser vivo ou mal-morto se encontrava num raio de muitos quilómetros.
De repente veio um Vento do Norte e fez gingar a porta esquerda do Saloon. Passado umas horas veio um Vento do Sul que fez rodopiar a porta direita do memso saloon. Ainda a porta mal tinha parado nos gonzos, veio uma brisa de Oeste que fez oscilar ambas as portas.
Quando ao fim do dia chegou a última ventania ao Saloon, foi deparar com os restantes ventos, brisas e afins em amena conversa, uns bebendo uns copos outros jogando às cartas. Estavam toddos finalmente juntos para a Convenção Anual das Massas de Ar Circulantes.

Friday, December 09, 2005

Noite escura

Nunca deveria ter saído da cama naquela noite. Tudo lhe parecia assustador. A pálida luz do luar reflectia-se sobre tudo, pouco iluminando mas sugerindo ameaças indecifráveis nos seus incontáveis reflexos. Definitivamente, não se sentia nada à vontade, tudo era ameaçador.
De repente, ouviu passos, como que de um ser sobrenatural, mais leves que os de um homem, com uma cadência estranha, como se o ser a quem pertenciam não tivesse a forma humana. Pareciam vir de trás da esquina mais próxima e aproximavam-se rapidamente.
Parou, esperando um qualquer ser de pesadelo, preparando-se para o pior. De repente sentiu, mais do que viu, naquela estranha luminosidade que tudo banhava um vulto que se projectava sobre ele. Tentou recuar, mas foi atirado ao chão... e deu por si deitado de costas com o seu fiel Labrador a lamber-lhe a cara enquanto a luz da Lua entrava pela janela e iluminava a mesa onde esperava o copo de leite quente que preparara para o ajudar a adormecer.

Tuesday, December 06, 2005

O anjo

Acusaram-me, injustamente a meu ver, de fazer chorar as pedras com os meus textos. Assim apresento agora um que, esse sim, é triste. Mas também é sobre a esperança. E é dedicado a alguém que, infelizmente, não o pode ler (vocês sabem quem...)

- Tu és Deus?
O enfermeiro ficou surpreso e um pouco chocado com aquela invectiva. Respondeu de imediato:
- Não, não sou Deus. Eu...
O rapazinho interrompeu-o de imediato e, olhando para ele com aqueles olhos desfocados pelos sedativos, afirmou peremptório:
- Então és um Anjo. Estás todo envolvido em branco e quando me tocaste fizeste-me passar a dor que sentia. Fico mais feliz, já nem me importo de morrer agora que sei que existem anjos e que se preocupam comigo. Devem estar amigos teus à minha espera, não?...
E o enfermeiro assentiu com a cabeça, incapaz de pronunciar palavra, com a negação atravessada na garganta, mas impossibilitada de sair pela candura e aparente paz que se reflectia nos olhos da criança enquanto esta exalava o seu último suspiro com um sorriso nos lábios.