Acusaram-me, injustamente a meu ver, de fazer chorar as pedras com os meus textos. Assim apresento agora um que, esse sim, é triste. Mas também é sobre a esperança. E é dedicado a alguém que, infelizmente, não o pode ler (vocês sabem quem...)
- Tu és Deus?
O enfermeiro ficou surpreso e um pouco chocado com aquela invectiva. Respondeu de imediato:
- Não, não sou Deus. Eu...
O rapazinho interrompeu-o de imediato e, olhando para ele com aqueles olhos desfocados pelos sedativos, afirmou peremptório:
- Então és um Anjo. Estás todo envolvido em branco e quando me tocaste fizeste-me passar a dor que sentia. Fico mais feliz, já nem me importo de morrer agora que sei que existem anjos e que se preocupam comigo. Devem estar amigos teus à minha espera, não?...
E o enfermeiro assentiu com a cabeça, incapaz de pronunciar palavra, com a negação atravessada na garganta, mas impossibilitada de sair pela candura e aparente paz que se reflectia nos olhos da criança enquanto esta exalava o seu último suspiro com um sorriso nos lábios.
3 comments:
:'(..............
é muito bonito...
Só existe um erro muito grave a meu ver... e não é no texto, é na introdução. É que eu tenho a certeza que ele vai ser lido pela pessoa a quem foi dedicado. Nós é que só vamos saber que ela gostou daqui a uns tempos
Ora bem. Os meus sentimentos sobre esse assunto são um pouco ambivalentes. Lá no fundo do meu ser, acho que as pessoas nunca vão completamente embora, fica sempre uma parte delas que se apercebe de alguma forma do que se passa neste mundo. Sempre que vejo algo que se refere ou que seria importante para alguém que já cá não está, sinto sempre que isso afecta a pessoa em questão e isso comove-me (mais do que seria de pensar de um espírito analítico). Por outro lado, a minha mente tenta convencer-me que o que acabou, acabou e que não vale a pena pensar sobre isso. Claro que tenta mas não consegue. Nós somos seres racionais mas, mais do que isso, somos seres emocionais. Assim, li com alguma comoção o comentário anterior, não só pela razão atrás indicada mas também porque insinua que a tal pessoa iria gostar / gostou.
Taambém, o que interessa para este caso a oopinião de alguém que acredita no Pai Natal (como eu?)
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