Thursday, October 01, 2009

A Lenda de Carmen a Génia


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Para Harold, aquele era um passeio apenas para desanuviar a sua cabeça.
Em casa parecia não haver já razão para ficar e o passeio tinha ainda a vantagem de lhe permitir ir até à loja de penhores e tocar um pouco de guitarra ao desafio com o puto que trabalhava na loja.
Nesse dia porém, o puto não se encontrava lá, e a substituí-lo estava um homem antipático (provavelmente o dono da loja) que quando se apercebeu que Harold era um habitué da loja, mas que pouco ou nada comprava e apenas utilizava a loja como poiso para as “jam sessions” com o outro maluco, lhe disse que estava proibido de tocar fosse no que fosse, se não comprasse nada.
Harold decidiu então que iria comprar uma peça bem barata, para não dar parte de fraco. Procurou, procurou até que numa das prateleiras mais baixas da velha loja descobriu uma espécie de viola chamada Tanpura, que tinha já a caixa de ressonância partida, mas que estava a um espectacular preço de 3,99€. Com jeito ainda a conseguia reparar e ficava com um instrumento exótico para a sua colecção. Pegou nela e fechou negócio com o usurário.
Chegado a casa pegou na velha Tanpura e começou a esfregá-la para a limpar e poder assim mais facilmente avaliar os danos que ela tinha sofrido. Ao passar numa das rachas com a mão ouviu um som de algo a partir-se e de dentro da Tanpura começou a sair um fumo negro. O seu instinto foi largar o instrumento que caindo ao chão se partiu.
Nesse mesmo instante, o fumo negro começou a tomar forma e em poucos segundos tomou a forma de uma esbelta mulher.
Harold estava embasbacado a olhar para a forma fumarenta da mulher, que apresentava um doce sorriso nos lábios e olhava para Harold com malandrice. Depois, numa voz calma disse.
- Obrigado por me libertares, estava presa dentro dessa Tanpura, faz mais de 300 anos.
Harold balbuciava qualquer coisa imperceptível, enquanto olhava para a mulher e gesticulava intermitentemente entre o chão os restos do instrumento e a mulher como que a tentar explicar a si mesmo o que tinha acontecido.
A mulher disse-lhe então, que se chamava Carmen e era uma génia (ou seja um génio do sexo feminino) e que em sinal de agradecimento lhe concederia 3 desejos. O pobre rapaz ficou estático e perguntou se podia pensar um pouco no que pedir.
E assim fizeram uma combinação, quando ele tivesse decidido o que pedir, bastaria pensar nela, que ela apareceria disponível para lhe satisfazer o desejo.
E desde esse dia, Harold habituou-se a chamar Carmen (pensando nela) e passava horas a falar de tudo um pouco com a mulher, que entretanto aparecia para o ouvir pedir o seu desejo. Vários dias se passaram até Harold fazer o primeiro pedido. E nesses dias ele foi descobrindo uma mulher espectacular, bonita, inteligente e sensual, que estava sempre disponível para estar com ele, sempre com um sentido de humor apurado e uma aura de mistério, características estas que foram fazendo com que Harold fosse ficando apaixonado por Carmen.
O primeiro pedido foi trivial, queria ser rico. Carmen satisfez o seu pedido no mesmo instante, enchendo-lhe a casa de ouro e jóias.
Mas Harold passou pouco tempo a usufruir dessas riquezas, porque nesse momento já só conseguia pensar em Carmen e o quanto queria era estar com ela. Por isso, mais uma vez a chamou e mais uma vez a bela princesa de pele escura e corpo esbelto veio ter com ele e mais uma vez ficou a conversar com ele, ouvindo as suas histórias e contando-lhe as dela. Carmen confessou a Harold que era uma princesa na terra de onde viera e que o seu próprio pai lhe tinha lançado a maldição que a tornara numa génia e a tinha encarcerado dentro da Tanpura. Contou-lhe também que agora que tinha sido libertada da sua prisão, quando satisfizesse os 3 desejos seria obrigada a voltar para a sua terra.
E não passou nem mais 1 dia até Harold formular mais um pedido. Queria que Carmen lhe dissesse se o amava como ele a amava a ela. A resposta de Carmen foi afirmativa e durante os 2 ou 3 dias seguintes amaram-se como se não houvesse amanhã, e o tempo existisse só para eles [Nota do tradutor : eu pessoalmente acho até que não foram 2 ou 3 dias, mas sim 2 ou 3 meses].
Ao fim desses 3 dias (ou 3 meses), deitado na cama disse a Carmen que queria que ela soubesse que ele a amava tanto, tanto, tanto que já não conseguia viver sem ela. Ela sorriu porque era aquilo que ela sempre tinha querido ouvir.
Nesse mesmo instante Harold disse-lhe:
- Já sei qual é o meu terceiro pedido. Quero que fiques comigo para sempre – disse-lhe ele com voz séria e grave, depois sorrindo afirmou
- Assim quebro o efeito da tua maldição que te obriga a voltar à tua terra após satisfazeres os 3 desejos.
Ela olhou então para ele e começou a chorar tentando explicar ao mesmo tempo que se começava a desvanecer no ar.
- Não meu amor - disse Carmen, tu já não tens nenhum pedido e eu já estou a ser convocada para a minha terra, é irreversível.
Harold sem perceber muito bem o que se estava a passar gritava
- Mas eu ainda tinha o 3º desejo, o que é que se passa
A imagem de Carmen foi-se esfumando cada vez mais, mas antes mesmo de desaparecer ela conseguiu ainda dizer
- Tu disseste que querias que eu soubesse que me amavas tanto, tanto, tanto que já não conseguias viver se mim. Esse, sim, foi o teu 3º desejo, meu amor. Fizeste-me muito feliz com esse teu desejo… Adeus
E no instante a seguir desapareceu.
Desde esse dia, Harold passou os seus dias agarrado aos restos da Tanpura, tocando avidamente todas as notas e todas as escalas na esperança que Carmen apareça novamente. Tornou-se a maior tocador de Tanpura, vivo à face da terra e apesar de estar sempre com um semblante calmo, nota-se a angústia de alguém que procura o seu par, em cada nota.