Tuesday, September 16, 2008

Não vamos falar sobre isso



Esperança Gomes era uma mulher pacata e vivia uma vida sem sobressaltos até que um dia, numa consulta de rotina, o médico notou uma pequena mancha nos seus pulmões, lançando logo o alerta sobre a possibilidade de estar na presença de um tumor maligno.
E de facto, após realizar toda a bateria de análises e testes médicos requeridos, o maldito tumor foi diagnosticado e foi rapidamente iniciado o tratamento.
No meio de todo este processo, Esperança tornou-se (contrariamente ao que sempre fora) uma mulher muito fechada, com pouca vontade de conversar e sobretudo de conversar sobre a doença.
O seu marido, Carlos Gomes, que a tentava ajudar ao longo de todo este processo, debatia-se agora com um problema que nunca tinha tido antes, que era não poder conversar com a mulher... logo ela que toda a vida tinha sido partidária que tudo se resolvia conversando.
Carlos recordava ainda, com amargura, o dia em que perante o diagnóstico final sobre a doença da sua esposa e perante a sua necessidade de conversar sobre a doença, sobre o futuro, enfim, sobre a vida em geral, esta apenas lhe disse:
- Vamos continuar a fazer de conta que está tudo bem... tudo normal. Relativamente à doença, não vamos falar sobre isso.
Infelizmente, passados meses verificou-se que o tratamento foi insuficiente para debelar o problema e o mal estava já espalhado por todo o corpo.
No espaço de mais 2 semanas, Esperança encontrava-se já muito debilitada e Carlos não resistiu a pedir então à esposa que explicasse o porquê da sua atitude tão derrotista perante a doença e, sobretudo, o porquê da exigência de não se falar sobre isso.
Esperança explicou então que, para ela o falar sobre as coisas era o modo de as manter vivas, discutindo-as, analisando-as, racionalizando-as, pensando sobre elas e tentando resolvê-las e, neste caso, isso seria apenas adiar um problema porque o cancro já estava a fazer o seu serviço.
Confessou então a Carlos que não queria falar sobre a sua doença e que preferia fazer de conta que ela não existia, para assim não pensar nela, não falar sobre ela, não analisar a sua situação e, muito menos, tentar resolvê-la o que era impossível.
Morreu passados 6 dias e deixou a Carlos um peso e uma dúvida que duraram para uma vida inteira. "Quando existe um problema que não se consegue resolver como por exemplo uma doença fatal, é preferível ignorá-lo e viver o resto da vida como se nada fosse ou é melhor continuar a lutar (mesmo sabendo que é em vão) e recusar taxativamente que não há solução?"
Eu pessoalmente não sei, mas gostava de saber a vossa opinião ("adicionem 1comentário") para depois poder dizer qualquer coisa ao Carlos pois a Esperança já ele perdeu...

1 comment:

player1331 said...

Eu diria (embora não tenha tido uma experiência dessas) que não se deve deixar as coisas ficarem por falar, por resolver... penso que, embora magoe ou possa tornar as coisas mais complicados, se deva falar e lutar, mesmo que achemos as coisas impossíveis. Acho que essa é a diferença entre viver e sobreviver...