Thursday, September 18, 2008

A cura

Ramalho era um homem atormentado por um vício. Adorava café e chegava a beber 5 ou 6 por dia.
Um dia experimentou, por brincadeira, fumar um cigarro naquilo que vulgarmente chamamos de fumar socialmente. Era só para acompanhar uma série de amigos que estavam todos a fumar, e vai daí ...

Foi no entanto um erro fatal. Aquele cigarro soube-lhe muito bem, soube-lhe muito melhor do que os cafés todos do mundo. Não que tivesse deixado de gostar de beber café, mas o cigarro era uma experiência muito interessante.
Tinha muitas vantagens sobre o café: o fumar um cigarro era mais intenso porque implicava puxar o fumo como se estivesse a beijar a boca de uma mulher, o cigarro segurava-se entre os dedos e sentia-se um calor intenso quando estava a chegar ao fim, o cigarro estava sempre disponível enquanto o café exigia a existência de um sítio onde o beber, o fumar um cigarro dava-lhe mais liberdade porque podia ficar seguro na boca, o café exigia que as mãos segurassem a chávena e isso implicava uma menor liberdade de movimentos. Pensando bem, o cigarro era realmente mais interessante e por isso, Ramalho começou a deixar de beber tantos cafés e começou a fumar bastante mais vezes.
Passado algum tempo e umas idas ao médico, verificou que este seu novo vício estava a dar cabo da sua saúde e o médico avisou-o que a conjugação destes dois hábitos potenciava a ocorrência de problemas, por isso tentou deixar de fumar.
As 2 primerias tentativas foram goradas, mas à terceira vez ficou curado.
Com a preciosa ajuda de uma amiga, que o alertou para quem na realidade usufruia com o vicio dele, que se deu ao trabalho de pegar sorrateiramente no maço de cigarros de Ramalho e se entreteve a escrever em cada um dos cigarros frases do tipo:

"estás a contribuir para as férias do 1º ministro na Suiça"
"o estado ganha mais com este cigarro... do que tu"
"boa!! o ministro das obras públicas já pode comprar um carro novo"
"mais uns cêntimos para pagar o telemovel do ministro da economia"

conseguiu finalmente deixar de fumar.
A ideia de utilizar o ódio visceral que Ramalho tinha pelos políticos em geral e pelo presente executivo em especial tinha funcionado impecavelmente.
Hoje em dia não fuma (nem sequer fala sobre essa fase da sua vida) e continua a beber o seu café. Diga-se de passagem que se calhar até bebe mais café, porque com o que aprendeu durante aqueles meses todos a fumar, descobriu mil e uma maneiras de tornar o prazer de beber um café mais intenso e melhor. Por exemplo, adicionando natas, mexendo o café com um pau de canela, enfim... imaginação não falta.
De qualquer modo, como se costuma dizer, não é a quantidade que conta mas sim a qualidade...

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