Leopoldina era uma mulher invulgar. Tinha com o tempo desenvolvido uma série de poderes especiais e hoje em dia poder-se-ia considerar uma heroína, Leopoldina a super heroína.
Naquela manhã solarenga, estava a tomar um café na leitaria do Sr. Amílcar, quando presenciou uma cena que a revoltou e a obrigou a agir.
Estavam também na leitaria uma Sra. e um rapazito deficiente, que se movia descoordenadamente ao som do "Creep" dos Radiohead que tocava na velha rádio, e que após ter comido o pequeno almoço com ajuda da mãe (a tal Sra.) começou a tossir. Após 2 minutos de tosse convulsiva (tempo durante o qual a Sra. o avisou repetidamente para parar com aquilo) vomitou tudo o que tinha comido. A mulher deu-lhe uma valente bofetada que pôs o rapazito de seu nome Pedro em fuga para a casa de banho para se limpar.
Leopoldina estava chocadíssima com toda aquela cena, então aquela fraca desculpa de mãe manda um estaladão daqueles ao filho que além de já ser deficiente, teve a pouca sorte de ter um ataque de tosse.
Não podia tolerar aquilo, dirigiu-se à mulher e usando a sua super-força obrigou-a a deitar-se no chão de barriga para baixo, depois apressou-se a passar a sua mão esquerda sobre a cabeça da mulher, sabendo de antemão que com este gesto ia fazer um varrimento da memória dos últimos 3 meses da vida da mulher e assim, aperceber-se do quão má ela era para lhe poder aplicar o castigo merecido.
O resultado não foi nada do que imaginara, naqueles 34 segundos que levou a percorrer as memórias dos 3 últimos meses de vida da mulher nunca viu nada que não fosse uma manifestação profunda de amor pelo seu filho, e o que a tinha levado a ter nesse dia aquela reacção pela primeira vez, tinham sido os dias consecutivos a aguentar a mesma cena por parte do rapaz, que todos dias que ali ia tomar o pequeno-almoço com a mãe fazia sempre a mesma coisa, provocando um ataque de tosse até vomitar tudo o que tinha comido. Todos os dias sem falhar um. A mãe só naquele dia tinha pela primeira vez perdido a cabeça e tinha-lhe dado o estaladão.
Como se pudera enganar Leopoldina tão drasticamente. Realmente, nem tudo o que parece é. Leopoldina passou então a sua mão direita sobre a cabeça da mulher para a fazer esquecer tudo o que se tinha passado nos últimos instantes, e ajudou-a novamente a pôr-se de pé.
Desde esse dia, Leopoldina nem sempre tem pena dos coitadinhos, nem sempre acha que os maus merecem castigo, primeiro usa a sua mão esquerda, e diga-se de passagem tem usado muitas mais vezes a seguir a mão direita do que a sua superforça.
Monday, March 20, 2006
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2 comments:
Ah, Grande Leopoldina. Todos devíamos ter super-poderes como tu. Mas refiro-me só ao super-poder de nos contermos e pensarmos antes de agir...
às vezes parece dificil...mas e dai muitas vezes pensar demais também faz mal...mas enfim...sim sem duvida deveria haver mais Super Leopoldinas por ai...
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