Tuesday, October 14, 2008

Congelar ou não congelar... eis a questão !!!



Com mais um pequeno empurrão conseguiu finalmente deslocar o enorme bloco de gelo que tinha cortado ao longo dos últimos 3 dias.
Neste caso não se podia dizer que a equipa rejubilava, porque não se tratava de facto de um trabalho de equipa. Correspondia apenas ao esforço da unidade MG0102 que trabalhava há mais de 6 meses na zona do Alaska para recuperar aquela importante descoberta.
O achado era o corpo de um espécime que parecia corresponder a um homem, provavelmente surpreendido por uma avalanche. Deveria ter ficado congelado dentro de uma caverna agora descoberta por causa do progressivo degelo causado por esses mesmos homens décadas atrás. Estava num estado de conservação exemplar, não havia sinais de danos como habitualmente acontecia quando descobriam (os poucos que conseguiam descobrir) cadáveres dos seres anteriormente habitantes do planeta.
Mandou um relatório sumário para o chefe de expedição, que estava a cerca de 300Km do local, e começou a operação de descongelamento.
A resposta ao seu relatório não tardou e a unidade MA0905 (chefe da expedição) iniciou a viagem para o local onde tinha sido encontrado, aquele que agora era apelidado de "The Columbia Man" ou Homem de Columbia, uma vez que tinha sido descoberto junto ao glaciar Columbia.
A unidade MG0102 começou o processo de descongelamento recorrendo à aparelhagem mais sofisticada que permitia programar rampas de aquecimento, minimizando o dano causado pelo fenómeno de descongelação. Contudo, sabia-se que era inevitável uma degradação dos tecidos e células do corpo sobretudo ao nível do cérebro, devido à formação de cristais de gelo durante o arrefecimento, que causavam a ruptura da parede das células. No entanto, era um mal necessário, e na verdade, ainda não conheciam nenhum método melhor de conservação, excepto talvez a cristalização por injecção de soluções de metasilicato de boro-hidrofenilamina, mas que poderia, em certos seres vivos, resultar no apodrecimento gradual do espécime, caso estivessem presentes células tumorais com as quais o MBHF reagia.
A 1ª experiência de descongelação foi um sucesso. Um sucesso porque foi possível fazer a descongelação sem danos visiveis e um sucesso também porque pela primeira vez desde a extinção dos seres humanos, se conseguia "acordar" um deles e falar com ele.
É verdade... a unidade MG0102 não estava preparada para ver o corpo recentemente descongelado mexer-se e levantar o polegar da mão direita (sinal tão comum em tempos idos) para indicar que estava tudo bem.
Desse instante em diante o número de operações de descongelamento era um problema crucial. De cada vez, tinha que fazer medições de orgãos e membros do espécime (que apresentavam alguns desvios ao padrão anteriormente estabelecido para a raça), análises de sangue, etc. Aproveitava e ia estabelecendo diálogo com ele (que era devidamente gravado e arquivado) para tentar aprender algo mais sobre a época em que tinha vivido.
Era uma experiência recompensadora, porque o espécime era interessante e comunicava de um modo fluente sobre a vivência da sua espécie.
Com cada novo descongelamento a unidade MG0102 notava o aumento do comportamento errante na capacidade de expressão e raciocinio do Homem de Columbia.
Quando finalmente chegou ao local de encontro a unidade comandante da expedição, já o espécime não apresentava um diálogo coerente e eram notórias as faltas de capacidade de comunicação, que apenas eram superadas pelo código gestual que a unidade MG0102 tinha estabelecido com o Homem de Columbia para método de comunicação alternativo (uma vez que já esperavam que o cérebro do espécime ficasse severamente danificado após tantas operações de descongelamento ).
Assim que chegou ao local a unidade MA0905 ordenou que o espécime fosse retirado dali. Já estava a ficar sem interesse para a prossecução dos objectivos da missão e não queria que se perdesse mais tempo com este espécime uma vez que, a descoberta de mais uma série de espécimes noutro glaciar, faziam antever novas hipóteses de conseguir resultados semelhantes aos obtidos com o Homem de Columbia.
A unidade MG0102 ficou então com um dilema, deveria congelar o espécime uma última vez antes de o largar de novo no glaciar, ou deveria continuar a tentar estabelecer contacto com ele para aprender mais sobre o modo de vida dos seres humanos causando a sua degradação final.
Não demorou muito a decidir.
Ainda hoje em dia existem visitas guiadas ao glaciar Columbia onde pode ser visto um enorme bloco de gelo, onde se consegue vislumbrar uma silhueta de um Homem com feições tristes e com o polegar da mão direita levantado.
Numa tabuleta ao lado pode ler-se "Homem de Columbia" e em baixo, em letras mais pequenas "Nota: O polegar da mão direita do espécime está levantado num gesto rudimentar indicando, segundo costumes próprios da época, que se encontra bem".

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