Monday, June 29, 2009

Atrasado




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- Amo-te – disse ele enquanto se virava para trás.
No local onde ela estacionara o carro e estivera a conversar com ele, agora apenas conseguia ler na parede a estrofe de uma canção

“You do something to me, that I can’t explain
So would I be out of line If I say
I miss you”

Mais uma vez tinha reagido de um modo estúpido, ela tinha acabado de lhe dizer que até o seu cheiro a enlouquecia e ele apenas ripostara jocosamente
- Então o melhor é eu tomar um grande banho antes do nosso próximo encontro.
Ao sair do carro dela e reconhecendo que a probabilidade de voltarem a estar juntos era muito diminuta dissera apenas …
- Até sempre.
E só ao fim de uns istantes (e de ter andado pelo menos uns 20 metros) é que se virou para trás e lhe tinha dito que a amava.
As suas respostas eram sempre tardias. Ao longo da conturbada relação tinha sido sempre assim.
Quando ela já estava completamente entregue ao namoro, ainda ele andava todo cheio de dúvidas e mas… mas…mas. Mais à frente quando ela já pensava em esquecer tudo o resto e ter um filho dele, estava ele numa fase muito atrasada. E quando finalmente ela decidiu que a relação entre os dois já não dava, estava ele desejoso de constituir família e terem um filho como ela desejara tempos atrás.
Na realidade andava sempre atrasado e a prova estava neste reencontro entre os dois em que tudo se passou exactamente do mesmo modo.
Quando ele finalmente se tinha decidido … já ela tinha partido. Seria assim toda a sua vida? Um atraso permanente?
Ali mesmo se prostrou no chão a chorar por mais uma (provavelmente a última) hipótese perdida de ser feliz e rogou aos Deuses que o fulminassem ali mesmo por ele ser tão estúpido e tão lento a reagir. Tirando a gabardine e abrindo a camisa para expor o tronco nu desafiou a intempérie na esperança que um qualquer raio o atingisse.
Ela tinha acabado de decidir que apesar de não ser o mais adequado o amor que sentia por ele era suficiente para tentar outra vez. Deu a volta ao quarteirão e dirigiu o seu carro para o sítio onde minutos antes tinham estado estacionados a conversar. Nem sequer reparou no vulto que se encontrava na estrada abalroando-o com violência.
Parou o carro e saiu para a noite chuvosa para verificar o que é que tinha acontecido. Qual não foi o seu espanto quando reconheceu a gabardine do homem que tinha ido procurar. Olhou estupefacta para o vulto que jazia no chão incapaz de se aproximar, com medo de saber a terrível verdade.
Nessa altura ouviu a voz do homem dizer
- tinha acabado de decidir que te ia procurar outra vez para te dizer que quero ficar contigo para sempre, felizmente desta vez … não me atrasei.

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