Saturday, July 04, 2009

À espera




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João Louro não era um homem muito apreciado pelos seus colegas, e por isso, ninguém ligou muito quando ele chegou um dia ao local de trabalho com uma pose altiva e orgulhosa, exibindo um papel enrolado na sua mão.
A “alto e bom som” apregoou perante os colegas que tinha finalmente conseguido (ao fim de mais de 20 anos a trabalhar como um mouro sem tirar férias nem nada) comprar o terreno mesmo em frente à fábrica onde trabalhavam e ali iria construir a sua nova casa.
A opinião generalizada era que ele era louco, pois enquanto toda a gente se tentava afastar dali e aproveitava cada dia de férias como uma bênção divina, João passava os seus dias na fábrica a trabalhar ignorando os comentários sarcásticos dos colegas que rindo lhe diziam:
- Quando estiver sentadinho na minha cadeira lá em casa a beber um belo café e a fumar um cigarro, vou-me lembrar de ti João e vou pensar … coitadinho do Louro! Tem que ir trabalhar!
João não dava importância aos comentários e sorria…
Os anos seguintes foram (ainda mais) árduos para ele porque a construção foi sofrendo atrasos sucessivos, e todos os imprevistos que se possam imaginar… aconteceram!
Desde a descoberta de umas ossadas de dinossauro nas imediações do seu terreno, que obrigaram à paragem das obras de construção da sua casa até se ter confirmado que os limites do seu terreno não conflituavam com os limites do achado arqueológico, até à descoberta de um antigo depósito de resíduos radioactivos (provavelmente da fábrica onde trabalhava) que obrigou a uma série de inspecções para garantir que os níveis de radioactividade estavam dentro dos limites aceitáveis tudo foi contribuindo para o atraso da construção da casa. Mesmo assim João não parecia muito preocupado, argumentando sempre que, apenas queria aquela casa para quando se aposentasse (o que aliás era já num futuro bem próximo).
Finalmente, chegado o dia da sua aposentação, João estreou também a sua nova casa.
Desde esse dia, era possível vê-lo diariamente às 8 horas da manhã sentado na varanda da sua casa a beber um café e a fumar um cigarro, exibindo um sorriso de orelha a orelha.
Acenava para cada um dos colegas que entrava e quem se conseguisse aproximar um pouco mais poderia até ouvi-lo dizer:
- Coitadinho do Costa! Tem que ir trabalhar!
- Coitadinho do Soares! Tem que ir trabalhar!
- Coitadinho do Mendes! Tem que ir trabalhar!
- Coitadinho do ...

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