Sunday, June 15, 2008

Mensagem numa garrafa


Daniel era o filho de um abastado casal de meia-idade, que morava numa casa mesmo junto à praia, num condomínio privado de luxo. Situadas a uns escassos 10 metros de uma falésia que dava para o mar, todas as casas tinham piscina, existia um campo de ténis, ginásio com sauna, jacuzzi, etc. Era um verdadeiro luxo.
Para Daniel isso não era o mais importante, ele vivia num mundo só seu, era sonhador, romântico e era um leitor compulsivo de romances.
Desde o dia que tinha lido o livro “As palavras que nunca te direi” de Nicholas Sparks e por feliz coincidência tinha ouvido mais ou menos na mesma altura o “Message in a bottle” dos The Police a sua vida tinha ganho um novo sentido e todos os dias repetia o mesmo ritual.

Com muito cuidado, escrevia no teclado do seu computador uma mensagem inspirada pelo último livro que tinha lido. Eram mensagens, essencialmente, de amor, para uma rapariga que ele não sabia quem era, nem tinha alguma vez visto, mas que acreditava que existia algures nesse mundo. E todos os dias com muito cuidado colocava a mensagem devidamente impressa em papel da melhor qualidade e cuidadosamente enrolada, numa garrafa e lançava-a janela fora ficando à espera de a ouvir cair na água após uns instantes. Apenas uma vez em todo aquele tempo, uma garrafa se partiu contra uma rocha ou pedra e nesse dia teve o cuidado de fazer nova impressão da mensagem e atirá-la janela fora segunda vez.
Hoje tinha acabado de ler mais um livro de poemas e sentiu-se compelido a escrever mais uma mensagem. Largou o livro e dirigiu-se para o computador. Os seus dedos conheciam já de cor o teclado e voavam sobre este com velocidade espantosa escrevendo.

O meu amor é uma estrela
É um astro a brilhar
O meu amor é um barco
Cavalgando o mar

Vai de boca em boca
Sem histórias p’ra contar
Vai de porto em porto
Sem nunca atracar

Só tu o farás parar
Com um feitiço de encantar.

Fez a impressão do pequeno poema que tinha escrito e depois passando a mão sobre o papel como que para sentir cada uma das palavras mais intensamente, enrolou a mensagem e tal como anteriormente fizera colocou-a na garrafa. Rolhou-a e dirigiu-se para a janela do seu quarto. Abriu-a, sentiu o cheiro a mar e ouviu o alegre conversar de miúdos algures à distância. Depois sorrindo recuou o braço para ganhar balanço e lançou mais uma mensagem esperando alguns segundos até ouvir a garrafa cair dentro de água. E sonhou. Sonhou com o dia em que a mais bela rapariga do mundo inteiro viria ter com ele com todas as mensagens e poemas que escrevera na sua mão e passariam horas a falar sobre cada um deles. Apaixonar-se-iam e iriam ser o casal mais feliz do mundo.
O vizinho do lado em contrapartida quando passou junto da sua piscina e viu mais uma garrafa a boiar pensou… “coitado do filho dos vizinhos do lado… além de cego deve ser um bocado apalermado… escreve para aí umas palermices e depois manda garrafas para dentro da minha piscina. Nem sei como é que hei de dizer isto aos pais.. afinal são tão simpáticos.

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