O velho caçador tinha tropeçado na encosta escorregadia e tinha rebolado até o seu corpo ter sido imobilizado por um tronco de árvore. Não que ele não fosse cuidadoso, mas tinha-lhe dado aquela dor no peito... e agora sentia o resto da vida que havia nele a escoar-se para a noite gelada. Tinha a certeza que não iria escapar.
Sentiu algo molhado na face e conseguiu, com esforço entreabrir os olhos. Deu de caras com o seu fiel amigo canino que descera até ao pé do corpo do dono e lhe lambia a cara.
- Sabes, o que mais lamento é ter de te deixar - murmurou o velho - tu foste a minha companhia e toda a minha família desde que te apanhei, ainda cachorro, há 3 anos. Gostaria de passar ainda muitos anos contigo, mas não vou conseguir. Desculpa-me...
Ergueu a mão e fez-lhe uma carícia com a parte de dentro do pulso, como só ele e mais ninguém sabia fazer, aquele gesto que só ele e o seu cão conheciam e significava, para ambos, gosto de ti, sou teu. Finalmente, fechou os olhos enquanto uma lágrima lhe descia pela face e a vida abandonava, de vez, o seu velho corpo.
Ao sentir que o seu dono já ali não estava, o cão ergueu o focinho para a Lua e uivou, um uivo pleno de dor e perda, como se o mundo tivesse acabado. Depois, afastando-se um pouco escavou na neve até que os flocos projectados pelas suas poderosas patas traseiras cobriram completamente o corpo daquele que tinha sido o seu dono, enterrando-o de forma a evitar que o seu corpo servisse de pasto para os animais selvagens. Acabada essa tarefa, olhou mais uma vez para aquele túmulo improvisado e começou a correr pela neve commo se procurasse algo, como se tivesse uum objectivo sagrado.
Correu sem parar até à viória onde ele e o seu dono iam, de vez em quando, comprar comida, atravessou-a e continuou a correr sem se deter a não ser para, de vez em quando cheirar o ar. Correu dia e noite, noite e dia, só parando o estritamente necessário para se alimentar e descansar o essencial para poder continuar a correr. Passou vilas, cidades, e continuou a correr como se tivesse pressa de chegar a algum lado.
Após três dias de corrida desenfreada, chegou a uma vilória onde parou mais uma vez para cheirar o ar e, ao invés de recomeçar a sua corerria louca, parou um pouco, como se quisesse certificar-se de algo.
Com um passo decidido, dirigiu-se a uma casa, cercada por uma vedação de madeira pintada de verde, cujo portão estava aberto. Dirigiu-se até à entrada da casa propriamente dita e deitou-se no tapete. Ainda não tinham passado 2 minutos, um casal aproximou-se, falando excitadamennte e trazendo um grande embrulho. O homem tocou à porta e, de imediato, ouviram-se passos e um homem risonho abriu a porta.
- É um rapaz - disse o homem, feliz. - Temos um filho! Querem vê-lo? Entrem, são bem vindos!
Reaprando no grande cão, o dono da casa, que naquele dia não conseguia deixar de considerar tudo bom e de gostar de tudo e de todos, disse:
- Entra tu também. Arranja-se qualquer coisa para ti na cozinha. Deve querer dizer qualquer coisa teres chegado no mesmo dia em que nasceu o meu filho, o meu primeiro filho! Entra, que és bem-vindo.
Fechando a porta atrás do cão e das visitas, o homem dirigiu-se para o quarto onde estavam a sua esposa e o seu bébé, falando com os seus amigos. O cão foi atrás e, entrado no quarto, sentou-se a alguma distância do berço onde ficou parado, olhando com atenção para o pequeno ser que se agitava entre os lençóis e que pareceu também reparar, de imediato, no cão. A mãe recente, notando um pouco menos de barulho proveniente do berço, olhou para a criança, seguiu o olhar desta e viu o cão.
- De quem é auqele cão? Compraram um cão? - perguntou ela aos seus visitantes. O marido apressou-se a responder que não era esse o caso, era um cão vadio que tinha surgido à porta mas que estava a pensar em ficar com ele para brincar com o seu filhote, quando crescesse. A esposa, notando que a criança não parecia receá-lo e que ele não se aproximava do bébé, achou que tal poderia ser possível mas foi logo dizendo: - Não o quero no quarto com o bébé. Tens que arranjar uma casota para ele lá fora.
Assim, o cão foi adoptado pela família, recentemente aumentada, e foi vendo o bébé crescer, sempre olhando por ele e velando para que nada lhe acontecesse.
Quando a criança fez 8 meses, os pais, que entretanto tinnham ganho confiança no cão e já o consideravam parte da família, resolveram que era altura de deixar a criança fazer festas ao animal. Segurando a criança, aproximaram-na do grande cão e disseram-lhe que não tivesse medo, que aquele era uma amigo.
Como se nunca tivesse tido o menor receio do cão, a criança aproximou-se do animal e fez-lhe uma carícia com a parte de dentro do pulso. O cão deu-lhe uma lambedela na mão e sentou-se, feliz. Não se tinha enganado, estava em casa...
Wednesday, June 21, 2006
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1 comment:
home is where the heart is...
....
home is... i don't know...
;)
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