Monday, July 13, 2009

Perfeito Coração




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Enquanto esperava pelo tão desejado comboio, ia ouvindo a gravação com a voz de mulher repetir vezes sem conta “O Comboio suburbano com destino a …” e logo de seguida uma outra gravação com uma voz masculina que acrescentava “Na entrada para os comboios é favor respeitar a distância de segurança”.
Finalmente, ao fim de mais de 40 minutos à espera, ouvi anunciar a chegada do comboio pelo qual esperara toda a noite.
Entrei... e lá estava ela sentada no lugar que tínhamos combinado, na carruagem que tínhamos combinado. Olhou para mim, sorriu e fez um olhar apreensivo apontando em direcção às luzes da carruagem que se encontravam quase todas apagadas. Só nessa altura reparei que de facto a carruagem estava quase às escuras.
Sentei-me ao lado dela enquanto as portas do comboio se fechavam. Estávamos sozinhos na carruagem e ela deu-me a mão e começou a falar-me sobre a viagem de comboio e o medo que tinha sentido porque vinha no escuro.
Depois tudo começou a acontecer tão rapidamente que me parecia um sonho.
Ela pegou-me na mão e encostou-a no seu peito. Senti o volume do seu seio redondo, carnudo e pensei que devia estar a chegar ao céu, ela entretanto disse-me baixinho
- Sente só como bate o meu coração
A mim apenas me ocorreram aqueles versos de Alexandre O’Neill,

Que perfeito coração
No meu peito bateria,
Meu amor na tua mão,
Nessa mão onde cabia
Perfeito o meu coração

que declamei sem grande jeito, mas com muita convicção. A convicção de alguém que sentia que dois corações batiam no seu próprio peito.
Ela inclinou um pouco mais a sua cara na minha direcção e…
O aroma que sentia agora que as nossas caras, as nossas bocas e lábios se aproximavam era divinal. Ela cheirava a canela, cheirava a flores… sei lá eu… cheirava tão bem… cheirava a ela. E quando os nossos lábios se estavam quase quase a tocar, quando o ar que eu inspirava era já o ar que ela expirava… Apareceu o “pica”.
Com uma falta de tacto do tamanho do próprio comboio, interrompeu-nos dizendo
- Os bilhetes por favor!!!
Estava tudo lixado. Aquele palhaço tinha dado cabo de um momento perfeito.
Ainda por cima devia estar a gozar o prato e depois de ter inspeccionado os nossos bilhetes sentou-se no banco mesmo à frente de nós.
Sorria com um ar de gozo, e com notório prazer verificou que tinha conseguido acabar com o momento. Depois disse
- E os senhores vão para??
Completamente fora de mim respondi
- Olhe!!! Eu estava a caminho do céu e só esperava que o Sr. fosse para o lado oposto.
O “Pica” de seu nome Jorge Reis, começou a fazer um grande discurso sobre a educação, a juventude e tudo o resto, e ali se foi deixando ficar até chegar o nosso destino. Ou melhor o dela, que saía primeiro que eu e que se despediu de mim com um singelo beijo na cara dizendo até amanhã.
E eu ainda gramei com o Sr. J. Reis até à estação de Entre Campos que era o meu destino. Ali me deixei ficar sentado apático e a pensar no meu azar. Durante os 10 minutos que ali fiquei sentado, ouvi novamente a gravação da voz feminina e masculina pelos menos umas 6 vezes. Era mesmo chata aquela porcaria. Pensei que ainda mais chato e ruim tinha sido o “Pica” que me tinha lixado. Isto não podia ficar assim.
Fui para casa, liguei-me à internet e comecei a pesquisar. Ao fim de 2 horas já estava a acabar o que era preciso para me vingar em pleno.
No dia a seguir quando me dirigia a correr para apanhar o comboio, via todos os que saíam da estação a rirem-se ou pelo menos sorrirem e percebi que o meu estratagema funcionara. Tinha dado trabalho, mas segundo pude apurar depois, até nas noticias tinha sido comentado que um “hacker” qualquer tinha conseguido entrar no sistema informático da CP e tinha substituído a mensagem de aviso de cuidado com as distâncias nas entradas para o comboio por uma bastante mais original.
Sorri ao entrar na estação, e em vez de ouvir a voz monocórdica do homem a repetir vezes sem conta “Na entrada para os comboios é favor respeitar a distância de segurança” ouvia agora dizer numa voz que não reconhecia (porque a nossa voz nunca nos soa igual quando a gravamos) “Na entrada para os comboios é favor respeitar a distância ao revisor Jorge Reis. Caso ele se encontre na carruagem fuja o mais rapidamente possível”.
Só por volta das 16h30 é que conseguiram voltar a repor a gravação original.

Duas perguntas ficaram ainda por responder: 1ª Deviam pagar a um homem para estar a repetir “Na entrada para os comboios é favor respeitar a distância de segurança” durante o dia inteiro, ou é preferível utilizar uma gravação? 2ª Afinal porque é que a canção se chama "Gaivota"?

2 comments:

Anonymous said...

Chama-se Gaivota porque é o nome original da musica cantada por Amalia e segundo porque é assim que começa a musica "Se uma gaivota viesse..."... Ou se é inteligente ou se tem... um blog para escrever cenas parvas! É a lei da vida...

O_Corrosivo said...

Essa justificação que a música se chama "Gaivota" porque é o nome original da música é tão válido que até explica que te chames Anónimo porque foi o nome original que a tua mãezinha e paizinho te puseram. O segundo argumento então é brilhante, porque se a música começa por (deverias querer dizer a letra da música) começa por "Se uma gaivota viesse..." então a maior parte das músicas existentes teriam que mudar o título porque não têm o nome igual à primeira frase da letra.
Mas ao teu último pensamento tenho que me render, e dar a mão à palmatória. Acho no entanto que seguindo essa mesma lei que apregoas devias arranjar um blog porque razões para isso nota-se que tens de sobra. :)