Thursday, August 21, 2008
Saudade
Era então a isto que chamavam saudade.
Nunca tinha sentido nada parecido, o desconforto e a sensação de aperto no peito eram realmente tremendos.
Nessa manhã tinha-se levantado já com o pensamento nela. Sentia a falta dos seus carinhos, do seu cheiro, da sua cumplicidade, da sua disponibilidade, enfim ... de tudo.
Vestiu-se sem ligar propriamente ao que vestia pois o seu pensamento estava 100% canalizado para a mesma coisa. Registou apenas que tinha vestido aquela t-shirt do Jack Johnson que ambos tinham comprado quando o tinham ido ver há uns meses atrás. Relembrou com agrado o modo malandro como ela nesse dia o puxou para dentro da casa de banho das mulheres no recinto do concerto e o "obrigou" a assistir enquanto vestia o seu exemplar da T-Shirt e a seguir o "ajudou" a ele a despir-se e vestir a sua. Lembrou também tudo o mais que se passou nesse concerto e nessa noite mágica.
Mas agora, que se encaminhava para o trabalho, a sensação de mau estar era horrível e o aperto que sentia no peito era avassalador. Era então a isto que chamavam saudade pensou novamente.
Já tinha ouvido montes de canções sobre a saudade, já tinha lido montes de poemas sobre a dita, mas nunca tinha sentido de forma tão intensa aquele aperto no peito.
Com alguma dificuldade, voltou atrás (avisando pelo telemóvel o seu chefe de que nesse dia não poderia ir trabalhar porque estava muito doente) e entrou novamente em casa. O aperto que sentia no peito tinha-se tornado insuportável. Dirigiu-se para o quarto e lançou-se sobre a cama. Agora já nem pensava muito nela, porque o aperto no peito era incrível. Levantou-se e começou a despir-se para se deitar um pouco na cama.
Assim que tirou a t-shirt sentiu-se aliviado e quando confirmou que se tinha enganado e tinha vestido a S dela em vez da XL dele ficou muito melhor.
Deitou-se, dormiu, ... e a saudade passou.
Wednesday, August 20, 2008
À procura de novos inquilinos
Estava definitivamente farto destes últimos inquilinos.
Além da sua falta de educação estes eram de uma arrogância extrema, o que o deixava completamente fora de si.
Ao longo do tempo em que moraram na sua propriedade tinham vindo a demonstrar uma série de defeitos que lhe causavam uma enorme repulsa abusando e estragando as instalações e condições que ele lhes fornecia.
Em nome de algo a que chamavam "bem-estar" esburacaram, sujaram e modificaram de tal modo o local que iria ser dificil, se não impossível, voltar a conseguir arrendar outra vez aquelas instalações.
Mas o pior de tudo era o desplante com que se afirmavam senhores de tudo. Descuravam completamente todo o trabalho (que não era pouco) que ele tinha para manter o sítio com umas condições minimas de habitabilidade. Eram sem sombra de dúvida muito mal agradecidos e arranjavam maneira de se enganarem a eles próprios inventando teorias que negavam e deitavam abaixo o seu trabalho como senhorio.
Por isso, após os dois avisos que já lhes tinha feito (como a lei obrigava) e que como sempre tinham ignorado ou não entendido, decidiu que os ia pôr na rua para ver se ainda conseguia alugar o espaço outra vez nos próximos tempos.
Como ia ter que fazer tantos arranjos e obras quanto mais cedo melhor... por isso foi sem grande pejo que carregou no botão que desligava o enorme electroiman que estava situado no centro da pequena bola que estes selvagens habitavam de modo a expulsá-los. Era bastante radical a atitude e nunca antes a tinha feito a nenhum
dos outros inquilinos anteriores, mas estes até nisso eram insuportáveis.
Na terra, inexplicavelmente, às 16h43m27s do dia 1 de Fevereiro de 2009 deixou de haver gravidade. O caos instalou-se em segundos e também em segundos tudo terminou com os biliões de seres humanos a morrerem ou por asfixia uma vez que o próprio ar que gravitava à volta da terra se afastou, ou por serem arrastados pelo espaço fora sem a gravidade da terra a prendê-los a ela.
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