Quando ela me contou como a leitura daquele artigo sobre o síndrome das almas atormentadas tinha afectado a sua vida eu estava longe de imaginar o quanto isso era verdade. Segundo me relatou, ele tinha achado curiosa toda a panóplia de asneiradas e de incorrecções que se diziam , mas no entanto, algo lhe tinha captado a atenção de um modo muito profundo e era o facto de todos os cantores referidos terem na família pais ou mães que tinham do mesmo modo que eles cometido suicidio, Kurt Cobain, Jeff Buckley, Elliot Smith.
A teoria era a coisa mais disparatada de que já ouvira alguma vez falar “pessoas de sucesso que no pico da sua carreira, no topo da realização quer a nível pessoal, quer a nível laboral decidiam acabar com tudo, porque na realidade sofriam do sindrome das almas atormentadas”. Mas a ele, biólogo de formação, geneticista de profissão tinha sido o suficiente. Havia ali algo muito interessante, que poderia ser estudado.
Depressa conseguiu escrever umas palavras sobre a sua ideia, colectar dados suficientes para interessar os seus pares da academia de ciências, e pôr meio mundo a trabalhar na ideia que tinha tido. Rapidamente a sua ideia passou a tese e finalmente veio a grande descoberta, quando após análise de algumas centenas de casos de suicidas recentes e feito o historial da sua situação na data do suicidio, tinha conseguido correlacionar o chamado sindrome das almas atormentadas na realidade com um defeito heredietário dos genes ST425 a ST569.
Bom ... a catadupa de acontecimentos posteriores à aceitação cientifica desta correlação brilhante, (que depois foi ainda confrontada com a análise do DNA de alguns dos suicidas mais famosos de quem era relativamente fácil obter algum DNA para análise) foi de tal modo súbita que quando se apercebeu de qual o ponto da sua vida onde estava, (vencedor do prémio Nobel da Biologia, promoção interna na academia para a categoria mais alta da sua carreira, vida familiar em alta porque finalmente ele e a sua esposa tinham conseguido ter o filho que tanto desejavam) ficou admiradissimo como as coisas podiam mudar em tão pouco tempo.
Como quase todos os dias, ela estava à espera do seu géniozinho para o jantar, quando o telefone tocou. Qualquer pessoa, que ali estivesse presente podia rapidamente inferir que algo de grave se tinha passado, pelo tom assustado que ela assumiu. Finalmente com o fim do telefonema, veio a certeza de que algo de errado tinha acontecido, ela telefonou para a sua mãe a pedir que viesse rapidamente ficar com o bébé porque tinha acontecido algo muito grave ao marido.
N a academia de ciências, todos por quem passava, baixavam a cabeça e comentavam, - mas porquê?... porquê?, tinha tudo o que um homem pode querer.
Quando chegou ao gabinete que ele ocupava deparou com uma cena tenebrosa, para a qual não arranjou descrição e por isso eu também não a vou tentar fazer. Em cima da secretária, não havia nenhum bilhete de despedida tão típico dos suicidas, havia apenas uma análise do seu próprio DNA e lá estava o gene ST425 defeituoso.
E foi assim que a minha mãe me transmitiu esta história, e é também por isso que optei por nunca me esforçar por ter muito sucesso, nem consigo ser muito feliz, é melhor assim, digo eu... ou então é só uma boa desculpa para não me esforçar... é que a gaita do defeito é heredietário... e se o meu pai tinha...
Saturday, August 19, 2006
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1 comment:
É uma boa desculpa. O pior é que poderia ter muito sucesso a evitar desencadear o síndroma e esse sucesso ser suficiente para o desencadear. É paradoxal, mas era essa a ideia....
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