Wednesday, August 19, 2009

Banda Sonora de uma vida cheia de “Aventuras “ e “Surpresas”


Banda Sonora - soundtrack-of-a-day-part1

Os seus amigos chamavam-lhe Óstar, isto porque uma vez em tom de brincadeira o seu amigo Rui lhe tinha dito que ele em vez de Óscar (o seu verdadeiro nome) se deveria chamar OSTar porque arranjava sempre uma música adequada para cada ocasião, um pouco como se estivesse a fazer constantemente uma banda sonora de uma vida. O trocadilho estava giro e a brincadeira acabou por pegar.
Óstar (ou melhor Óscar) era um jovem com um vasto conhecimento musical, mas acima de tudo era uma pessoa com uma excelente memória e um enorme sentido de oportunidade, características que lhe conferiam uma facilidade inigualável em conseguir sempre lembrar-se de uma música cujo nome, tema ou letra fossem relacionados com o que se passava à sua volta nesse preciso momento.
Era comum os seus amigos passarem tardes na esplanada de um qualquer café em divertidos concursos a tentar arranjar palavras que ele não conseguisse encontrar em nenhum nome ou letra de música, sem terem sucesso (excepção feita claro ao seu amigo Paulo que recorria sempre ao já célebre “Desarcebispoconstantinopolizar” para tramar Óstar).
Esta faceta de Óstar foi obviamente crucial na profissão que ele iria acabar por escolher: Locutor de rádio. E ainda na casa dos trinta anos, tornou-se o maior locutor de rádio de todos os tempos, com um programa que acumulava sucessos atrás de sucessos, e que consistia basicamente num primeiro instante num telefonema de um ouvinte que em directo dizia o que estava a sentir, o que o preocupava, o que queria…, enfim … só tinha que dizer uma palavra e a partir desse instante, a emissão de cerca de uma hora e meia começava, com Óstar a pôr no ar, apenas músicas relacionadas com o tema que o ouvinte tinha sugerido.
O programa acabava quase por ser um concurso do ouvinte contra Óstar, mas acima de tudo era um cardápio de músicas servidas com um bom gosto inquestionável e a constante pesquisa e actualização de Óstar neste campo faziam desta hora e meia uma autêntica estreia antecipada para muitas das músicas que se tornariam um sucesso nos próximos tempos.
É claro que para Óstar havia temas incontornáveis, como por exemplo quando lhe falavam de amor, “Love of my life” dos Queen, ou quando lhe falavam de saudade “I Miss You” dos Incubus. Mas depois a parte mais gira era quando as relações entre temas e palavras começavam a surgir, que era o caso da escolha que tinha feito para aquele programa sobre o Natal em que tinha incluído o “Last Christmas” dos Wham (um incontornável que era a seu ver uma das melhores canções sobre amor, ou melhor desamor) mas tinha também incluído o “Wishlist” dos Pearl Jam que na realidade falava da Christmas tree, mas acima de tudo fazia a descrição de uma lista de pedidos, e isso ele relacionara com os pedidos de natal.
Com o tempo, e o sucesso do programa, Óstar foi convidado para fazer compilações sujeitas a um tema e que se tornaram em “best-sellers”. O dono da editora discográfica, nem precisava de saber qual era o tema que Óstar iria escolher e Óstar nem se preocupava com a escolha porque o seu estado de espírito era o seu guia na escolha do tema. E cada compilação que ele fez correspondeu a uma fase da sua vida. A fase da sua grande paixão pela mulher com quem tinha casado tinha resultado numa colectânea chamada “Love” a fase de borgas que se seguiu resultou na colectânea “Fun”, o desalento e abandono que experimentou quando a sua companheira o deixou deu azo à colectânea “Lonely”, a fase de medo e paranóia em que entrou de seguida resultaram na colectânea “Scared”, a fase de espiritualidade e religiosidade em que se viu envolvido de seguida deram origem à colectânea “Sacred”. E claro está que houve lugar à colectânea “Love 2”, 3, 4, etc.
Nos últimos tempos, Óstar tinha começado a escolher músicas para a sua próxima colectânea, mas a sua actual companheira (Sara de seu nome), achava-o triste e preocupado. Por várias vezes tinha já perguntado qual seria o nome da nova colectânea, mas ele fechava-se e recorrendo a respostas evasivas nunca chegava a responder.
Um dia aproveitando o facto de Óstar ter saído para ir passear junto à falésia que ficava junto à casa deles, ela procurou e conseguiu finalmente encontrar um papel com as anotações das músicas para a próxima colectânea de Óstar.
No papel começou por ler entre aspas “Desarcebispoconstantinopolizar”, abaixo estava a lista das canções que tinha escolhido,

01 – Join me in Death – Him
02 – Death is not the end – Nick Cave & The Bad Seeds
03 – Tears in heaven – Eric Clapton ...

Sara, sem acabar de ler a lista, saiu a correr porta fora em direcção à falésia. Chegou a tempo de ver no fundo da falésia dentro do azul do mar, uma mancha cor de laranja que parecia a T-Shirt que Óstar tinha vestido minutos atrás quando saíra.
A colectânea “Desarcebispocontantinopolizar” foi um sucesso.

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