Sunday, December 20, 2009
Ela Voltou a casa para o Natal (ou porque é que se comem tantos doces no Natal)
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Ela chegou ao local de encontro, com o seu longo cabelo escuro a esvoaçar ao vento e como habitualmente, chamou
- Docinho, cheguei…
Ele apareceu e correu para a sua Princesa, por quem tinha esperado tanto tempo.
O encontro entre os dois foi tudo o que eram os encontros entre os dois, quente, sensual, doce, intenso e infelizmente curto.
No final do fugaz encontro ela contou-lhe da decisão de seu pai o Rei do reino de Nasai de a mandar numa viagem de cortesia pelos reinos vizinhos na esperança que ela se afastasse do camponês por quem o Rei já tinha ouvido rumores que estava apaixonada.
Distraídos a falar sobre o assunto, nem repararam na bruxa Lígiel que se tinha materializado junto a eles e que sem hesitar lançou um feitiço sobre o parzinho romântico antes mesmo de eles se poderem afastar. Ao mesmo tempo que proferia a frase “Corpum est ad infinitum, sanctuarium al edulcor” (que na realidade não quer dizer nada, mas soa bastante a latim e consegue impressionar qualquer um) rasgou a pele do pobre camponês com a sua unha.
A Princesa saiu a correr fugindo para a sua carruagem e pedindo ao cocheiro que arrancasse para o castelo, afastou-se o mais rapidamente possível.
No dia seguinte, à partida do cortejo real que levava a Princesa à Corte dos Correia (a família real do reino mesmo ao lado de Nasai), assistiu também o pobre camponês cujo ferimento tinha começado já a infectar libertando uma espécie de pus que cristalizava de imediato e que devia feder o suficiente para todas as moscas do reino quererem pousar sobre a ferida. Com receio da reacção da sua amada, ele nem ousou aproximar-se.
Com o passar dos dias o buraco feito pela bruxa má foi aumentando de tal maneira que o pobre camponês adivinhando o fim próximo da sua existência decidiu mandar uma mensagem à sua amada que na sua digressão de Natal na Corte dos Correia tinha já angariado simpatia de todos os nobres casadoiros.
Quando recebeu a notícia que dava conta do estado do seu amado a Princesa decidiu voltar rapidamente para o reino de Nasai, contrariando as ordens de seu pai que a tinha aconselhado a voltar apenas após o Natal.
Quando finalmente chegou ao pé do seu amor já este parecia uma chaga viva e não bastasse o mau aspecto do exsudado da ferida, a presença dos milhares de moscas em volta do camponês tornavam o quadro muito mais horrível.
Quando a Princesa se aproximou do pobre camponês disse timidamente:
- Oh, meu docinho, como tu estás? Vou mandar chamar o médico real.
Batendo palmas ordenou ao cocheiro que fosse buscar o médico do Rei. No entanto, o pobre camponês adivinhando que lhe restavam apenas alguns minutos de vida pediu apenas um beijo à sua amada.
Com repulsa, mas a coragem característica de alguém que transporta nas veias sangue azul, ela aproximou-se e beijou o sítio onde havia menos liquido a verter da enorme chaga que o camponês era.
De seguida fazendo uma cara admirada a Princesa disse
- humm, docinho.
De seguida começou a lamber o corpo do pobre camponês que finalmente conseguiu perceber que ela se deleitava com o liquido que escorria das suas feridas, porque era na realidade um liquido doce, tipo geleia de marmelo. E a Princesa como gulosa que era não podia deixar de aproveitar tanto docinho.
À medida que foi limpando com a língua o corpo do camponês as feridas começaram a secar quebrando-se assim o feitiço que a malévola Lígiel tinha lançado.
A princesa acabou mesmo por curar o camponês à lambidela, e casaram no dia seguinte.
O Rei que não conseguiu evitar dar também umas lambidelas no doce que jorrava do corpo do camponês acabou por declarar que desse dia em diante, o Natal era época de comer doce. Com o passar das gerações e o diluir da tradição, foi-se acrescentando novas iguarias e é por isso que hoje em dia no Natal nos atafulhamos de doces.
Tudo porque ela voltou a casa para o Natal.
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