Tuesday, October 28, 2008

A Promessa



Download Beverley Craven Promise Me for free from pleer.com
Beijou-a mais uma vez. Desta vez, como só ele sabia fazer... aspirou todo o ar que estava dentro dela para dentro de si... e depois dando-lhe uns segundos para recuperar o fôlego disse - Respiro o ar que tu respiras!!!
De seguida, levantou-se da cama deixando-a ainda enroladinha e estremunhada, saíu pela porta para mais um dia de trabalho. Quando ia no lance de escadas do 2º andar lembrou-se de algo e voltou atrás. Abriu a porta de casa, entrou e foi directo ao quarto onde ela ainda estava a dormitar... deitou-se novamente ao lado dela e disse-lhe sussurrando...
- Se hoje eu morresse, ias arranjar outra pessoa ?
Ela, ainda sonolenta, respondeu - Que parvoíce... donde veio essa conversa agora? ... vai mas é trabalhar. E, dando-lhe um beijo, saiu da cama para ir tomar banho.
Ele foi atrás dela e perguntou novamente - Arranjavas outro homem, outro marido para ti?
Ela, já farta daquela conversa, ripostou "não sei... depende...ao fim de muito tempo..." .
Depois, vendo a cara contristada dele, terminou a frase dizendo..."não... acho que não". Depois, já com uma atitude mais decidida, disse finalmente..."não ... não iria ter mais nenhum homem na minha vida... tu preenches-me". Dito isto, começou a tomar banho.
Ele saíu finalmente de casa, mas aquela conversa martelava a sua cabeça. Percorreu o caminho distraído, atravessou as estradas sem olhar, sempre a pensar na conversa.
Encontrava-se dividido. Se por um lado, a ideia da sua mulher ser eternamente só sua era agradável, sobretudo contrastando com a ideia de a ver agarrada a outro homem, por outro lado, pensava que, se a amava verdadeiramente, deveria desejar que ela fosse verdadeiramente feliz e se ele já não estava presente para a fazer feliz, então...
Mas esta ideia era repugnante... ela abraçada a outro homem, a beijá-lo... Tão atarefado estava nestes pensamentos que, mais uma vez, nem reparou no sinal vermelho que estava a passar e, infelizmente, a condutora do carro, desta feita, não foi capaz de evitar o embate que foi fatal. Ele sentiu apenas uma leveza muito grande, e de seguida começou a ouvir uma música muito relaxante até se sentir puxado para dentro do que parecia um autocarro.
Era estranho porque apesar de parecer um autocarro, não parecia ter limites, não parecia ter rodas, nem nada do que habitualmente existe num autocarro. Nem sequer condutor tinha. Tinha apenas mais passageiros e um homem de cara simpática que lhe indicava um lugar para se sentar.
Quando chegou... apercebeu-se finalmente do que tinha acontecido. Tinha morrido e este era o destino final. Após conversa prolongada com o homem do autocarro, apercebeu-se também que após um estágio naquelas paragens lhe era dado o direito de voltar (não numa forma terrena) e zelar por todos aqueles que lhe eram queridos. Podia prescindir desse direito, bastando para isso fazer um pedido ao homem do autocarro sobre quais as medidas que queria que ele tomasse e ele iria proceder de acordo com esse desejo. O homem deu-lhe então o equivalente a 10 minutos ali (que na terra correspondiam quase a uma eternidade) para escrever o seu pedido.
Ele pensou muito bem e escreveu:
1º - Ajuda todos os que me são queridos, a serem felizes.
2º - Não deixes acontecer nada de mal a nenhum deles.
3º - À minha mulher em especial fá-la feliz, fazendo no entanto que ela cumpra as suas promessas para comigo
4º - Dá-me só um último instante para os visitar a todos outra vez.

O homem do autocarro, achou a lista tão pequena (para o que era habitual ver-se naquelas paragens) que lhe disse que todos os seus desejos seriam realizados. Alertou-o, no entanto, que deveria lembrar-se que o tempo ali "corria" de uma maneira diferente e que, por isso, quando lá fosse, já teriam passado mais de 5 anos sobre o seu desaparecimento.
Ele preparou-se e fez a sua última visita aos seus entes queridos. Começou pelos pais que estavam bastante mais velhos, mas aparentemente felizes. Depois o homem do autocarro levou-o a visitar alguns amigos mais chegados e, um por um, foi verificando que estavam todos bem. Finalmente, levou-o a ver a sua esposa.
Quando entrou na casa que o homem lhe indicava, encontrou uma mulher que não parecia a sua, nem mesmo com mais cinco ou seis anos em cima... aliás parecia até mais nova. Olhou de soslaio para o homem do autocarro (que esperava pacientemente) como que a dizer-lhe que ali deveria haver um engano, uma vez que aquela nem sequer era a sua casa. Mas este acenou com a cabeça sugerido-lhe que esperasse um pouco.
Nessa mesma altura, viu então entrar a sua esposa pela porta. Estava ainda muito bonita e a visão que tinha dela, fê-lo lembrar-se de todos os bons momentos que tinham passado juntos... lembrou-se também dos lábios carnudos dela e desejou ardentemente beijá-los como só ele sabia fazer. Fechou os seus olhos e preparou-se para a beijar, apesar de saber que tudo isto era apenas fruto da sua imaginação, mas conseguiu de algum modo sentir o ar sair de dentro dela para dentro de si.
Abriu os olhos e ouviu sussurrar... "respiro o ar que respiras"...
Mas quando viu os lábios da sua mulher voltarem a colar-se aos lábios da outra rapariga mais nova beijando-a da forma como ele costumava fazer, saiu daquela casa enraivecido com tudo aquilo e foi pedir contas ao homem do autocarro que tão simplesmente lhe disse...
- Porque te exaltas ?... Fui ver as gravações da promessa que ela te fez, e o que ela prometeu era que não iria ter mais nenhum homem. Cumprem-se assim todos os teus pedidos e se reparares bem... olha como ela está feliz!!!

No comments: