Monday, November 10, 2008

Olhar para as nuvens



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E zás... era ali mesmo... o local perfeito para ensinar a minha filhota a observar as nuvens e espreitar o arco-íris.
O sítio era de acesso complicado, mas dificilmente se conseguiria encontrar um local mais apropriado. Tinha uma boa área de relva onde nos podíamos recostar e até rebolar, tinha uma certa protecção do olhar de estranhos (protecção esta, concedida pelas paredes rochosas que tínhamos descido) e sobretudo dava para uma parte do céu que estava repleta de nuvens brancas num lindíssimo fundo azul.
Deitá-mo-nos os 3 e demos as mãos. Depois comecei a explicar como se devia fazer...
- Primeiro fechas os olhos durante um bocadinho, e pensas em coisas boas. Depois abres os olhos e fixas uma nuvem, tentas ver uma forma nela, depois se essa não te lembrar nada passas para outra. Se ao fim de estares um bocado a olhar para elas não te lembrares de nada... bom... fechas os olhos de novo e recomeças a pensar em coisas boas e repetes tudo.
Ela fez uma tentativa (mesmo antes de eu ter acabado a explicação) o que me deixou (de um modo totalmente infantil) furioso. Pedi-lhe para esperar um pouquinho e acabei dizendo
- Depois situas a tua nuvem no céu para os outros poderem ver o que tu viste e antes de dizeres o que viste perguntas o que os outros vêem... ok? - perguntei eu.
Ela respondeu afirmativamente e começámos. Como sempre, ela quis ser a primeira a tentar. Fechou os olhos ficou um pouco quieta e passados uns instantes abriu os olhos, eu consegui ver o olhar dela a vaguear pelo céu até que estacou num sítio e passado apenas alguns segundos um sorriso rasgado nascia nos seus lábios. Depois com muita calma disse - já está.
Com a ajuda do indicador direccionou o nosso olhar para a nuvem que tinha visto. Depois, perguntou - o que vês tu pai?
Eu olhei, e aquela nuvem apenas me fazia lembrar um "donut" achatado, por isso, foi isso mesmo que eu disse. Ela deu uma pequena risada e depois perguntou
- E tu mãe... que vês?
Surgiu nova risadita quando ouviu a resposta da mãe que tinha conseguido ver uma chávena com asa. Finalmente ela disse...
- Eu vejo uma bóia com a forma de um pato... e aquilo que a mamã dizia ser a pega da chávena é a cabeça do pato.
Todos nos rimos, e à vez fomos dando largas à imaginação visualizando os mais diversos objectos e rindo-nos com as parvoíces que iam sendo ditas.
O tempo passou bastante depressa e rapidamente chegou a hora de ir almoçar. Elas levantaram-se e disseram-me
- Anda preguiçoso, estás quase a dormir... está na hora de ir almoçar.
Eu pedi mais uns minutos e disse que ia só tentar ver mais algumas nuvens. Ajudei-as a subir a parede rochosa e a seguir deitei-me outra vez na relva macia a contemplar as nuvens no céu. Ouvia a pequenita ainda toda exaltada a comentar com a mãe como é que era possível o pai ter visto uma guitarra numa nuvem onde elas apenas viam o formato de um pão. Ouvi ainda o riso das duas, antes de fechar novamente os olhos para tentar vislumbrar novas formas nas nuvens.
Estava a saber-me tão bem que repeti o processo bastantes vezes. A certa altura estava mestre em ver formas e objectos nas nuvens. Consegui ver outra vez uma guitarra, depois já me parecia ver a minha própria silhueta a tocá-la e com o passar do tempo o céu foi ficando carregado e comecei a ver uma multidão de cabeças que me tinham vindo ver a tocar, e mais um baterista e mais um guitarrista e um microfone e...
Acordei com o primeiro pingo de chuva que me caiu na cara. O céu estava realmente tão carregado de nuvens que tudo aquilo que eu vira estava agora a desfazer-se em chuva que começava a cair com fartura. Levantei-me e em simultâneo ouvi chamar
- Pai... papá!!!... onde estás?
E ao virar-me lá estavam elas à minha espera com um chapéu de chuva. No caminho fomos rindo novamente das tolices que tínhamos visto antes e quando chegámos a casa ela disse-me
- Sabes pai!!! foi muito fixe... mas acho que tu tens uma imaginação muito grande porque vês coisas que mais ninguém consegue ver.
Eu sorri e respondi - pois é ... acho que às vezes vejo as coisas que gostava de ver...
O local era espectacular ... e por isso ainda lá fomos muitas mais vezes. Por vezes vi as nuvens, por vezes o arco-íris e por vezes vi a relva, mas acho que ali vi sempre... um pedaço do céu.

1 comment:

player1331 said...

muito bonito...
e mais não digo...