Monday, March 09, 2015

11h11 no meu relógio


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O ar gingão com que descia a rua indicava bem o estado de espirito que o animava. Assobiava o On top of the world dos Imagine dragons, de um modo estranho, mas que um ouvinte mais experiente conseguia identificar como a melodia que as teclas faziam, no entanto para o comum dos mortais estava desafinado.
Mas nada disso o preocupava, estava exuberante e era um homem com uma missão. A missão era apresentar à mulher que ocupava o seu pensamento nos últimos tempos o que sentia por ela, sem subterfúgios, sem deixar coisas por dizer e sobretudo mostrando-lhe por (a+ b) que o que existia era amor, sim… ele amava aquela mulher como não achava possível amar ninguém naquela fase de vida.
Toda a vida tinha pensado que se um dia se apaixonasse por alguém por quem não se devesse apaixonar, iria guardar esse sentimento para si e viver com ele escondido no seu coração. Mas agora que estava a acontecer, a coisa parecia impossível de concretizar, o sentimento era de tal modo avassalador que guarda-lo só para si era impensável, seria equivalente a carregar o peso do mundo sobre si mesmo. Tinha pensado em não o confessar à sua amada mas pedir a algum amigo (verdadeiro amigo) para o ouvir. Mas na verdade o seu maior amigo, ou melhor amiga, era ela, a mulher por quem agora estava apaixonado. Isso era um problema! Ou então não... Foi este pensamento que lhe sugeriu a solução, falar com ela, era a sua maior amiga, a pessoa a quem tudo podia confessar e agora era o alvo do seu amor.
Parou de assobiar, quando ao olhar para o relógio, verificou que eram 11h11, puxou instantaneamente do seu telemóvel e escreveu uma mensagem para ela em que dizia “são 11h11, em quem pensas? “. Existia uma “crença” quase infantil que partilhavam e que dizia que quando alguém olha para o relógio e as horas e minutos são iguais, alguém que gosta muito de nós está a pensar em nós. A resposta não tardou na forma de uma mensagem também, que dizia “Imagine dragons, aquela música que me mostraste outro dia, adoro-a”.
Para ele este era o sinal decisivo, porque se a música tinha sido apresentada por ele, ela estava obviamente a pensar nele, e isso era muito bom. Escreveu então uma nova mensagem em que transcrevia o início da letra da música “If you love somebody Better tell them while they’re here ’cause They just may run away from you” e enviou. De seguida escreveu -preciso de falar contigo, posso ir ter ao sítio do costume daqui a 15 minutos? A mensagem de resposta trazia um habitual “claro que sim”.
Ao fim de 15 minutos estavam juntos sentados à mesa do café onde sempre se encontravam. Agora o seu semblante já não demonstrava a mesma descontração que antes e demonstrava até um pouco de ansiedade. Mas ele sabia que se conseguisse dizer tudo como tinha imaginado ela iria perceber perfeitamente onde ele queria chegar. Tinha escrito num papel e preparado um discurso que pareceria uma completa parvoeira a quem o ouvisse e só a ela diria algo, isto uma vez que desde que se tinham conhecido que havia uma grande cumplicidade que partilhavam através de nomes de músicas e nomes de grupos musicais cuja música que ambos pensavam quando era enunciado era a mesma. Começou então por lhe dizer:
- Sabes que “Paul Young”, deixas-me “Cesária Evora” . Existe “Naked eyes” de ti. “Pet shop boys” nestes últimos tempos, “Lenny Kravitz” porque “Incubus”. Beatles porque além de Queen, Sinnead O’Connor e existe algo que te quero dizer, que é…
Nesta altura a voz dele tremeu e ela aproveitando a quebra colocou calmamente o dedo nos lábios dele como que a dizer-lhe que não falasse, e aproximando os seus lábios dos dele deu-lhe um imenso Prince e completou dizendo Marisa Monte.
Dizem as más-línguas que saíram tão abraçados do café que não havia nome de música nenhuma que conseguisse descrever aquele par. Mas que de certeza que ambos se sentiam muito Imagine dragons era bem óbvio.
Enquanto escrevia este texto eu próprio olhei para o relógio do meu PC e verifiquei que eram 00:00 (mau hábito escrever sempre fora de horas). Em quem pensavas?