Monday, June 16, 2008

Ainda bem que estás por perto!!!


Quem, como eu, fosse naquele autocarro tinha-se já apercebido do que se ia passar, mais tarde ou mais cedo… era tão fatal como o destino.
A carreira era o 69, era uma tarde quente de verão, e eu tinha-me sentado num daqueles lugares que ficam virados no sentido oposto ao do movimento do autocarro, pura e simplesmente porque me faz menos impressão viajar deste modo, mas quando os vi quase na última fila do autocarro percebi logo que iria haver ali lugar a algo mais do que uma pacata viagem de autocarro até à Picheleira.
Já o tinha visto por mais que uma vez procurar com a mão o generoso decote da camisa, já bastante aberta, dela e apercebi-me de que ela olhava nervosamente para todos os passageiros do autocarro para ver se havia alguém a ver e acabava sempre por o acalmar com alguns beijos inocentes afastando a mão dele do seu seio esquerdo , como que a dizer-lhe… “tem calma…há tempo!!!”.
Quando chegámos à paragem que fica em frente da leitaria da Manuela, que era sempre um sítio onde saía muita gente, tudo começou a acontecer.
Ela cedeu finalmente aos pedidos dele desnudando o seio esquerdo, que ele rapidamente começou a acariciar e desesperadamente beijou.
Ela nervosa, encostou a cabeça para trás deixando de pensar no que as pessoas poderiam pensar, sabia que ele precisava e por isso, sem pudor, ajudou segurando o seio de modo a que ele pudesse finalmente chegar com a boca ao mamilo erecto.
Nessa altura o bebé calou-se finalmente deixando os restantes passageiros acabar a viagem sossegados.

Sunday, June 15, 2008

Mensagem numa garrafa


Daniel era o filho de um abastado casal de meia-idade, que morava numa casa mesmo junto à praia, num condomínio privado de luxo. Situadas a uns escassos 10 metros de uma falésia que dava para o mar, todas as casas tinham piscina, existia um campo de ténis, ginásio com sauna, jacuzzi, etc. Era um verdadeiro luxo.
Para Daniel isso não era o mais importante, ele vivia num mundo só seu, era sonhador, romântico e era um leitor compulsivo de romances.
Desde o dia que tinha lido o livro “As palavras que nunca te direi” de Nicholas Sparks e por feliz coincidência tinha ouvido mais ou menos na mesma altura o “Message in a bottle” dos The Police a sua vida tinha ganho um novo sentido e todos os dias repetia o mesmo ritual.

Com muito cuidado, escrevia no teclado do seu computador uma mensagem inspirada pelo último livro que tinha lido. Eram mensagens, essencialmente, de amor, para uma rapariga que ele não sabia quem era, nem tinha alguma vez visto, mas que acreditava que existia algures nesse mundo. E todos os dias com muito cuidado colocava a mensagem devidamente impressa em papel da melhor qualidade e cuidadosamente enrolada, numa garrafa e lançava-a janela fora ficando à espera de a ouvir cair na água após uns instantes. Apenas uma vez em todo aquele tempo, uma garrafa se partiu contra uma rocha ou pedra e nesse dia teve o cuidado de fazer nova impressão da mensagem e atirá-la janela fora segunda vez.
Hoje tinha acabado de ler mais um livro de poemas e sentiu-se compelido a escrever mais uma mensagem. Largou o livro e dirigiu-se para o computador. Os seus dedos conheciam já de cor o teclado e voavam sobre este com velocidade espantosa escrevendo.

O meu amor é uma estrela
É um astro a brilhar
O meu amor é um barco
Cavalgando o mar

Vai de boca em boca
Sem histórias p’ra contar
Vai de porto em porto
Sem nunca atracar

Só tu o farás parar
Com um feitiço de encantar.

Fez a impressão do pequeno poema que tinha escrito e depois passando a mão sobre o papel como que para sentir cada uma das palavras mais intensamente, enrolou a mensagem e tal como anteriormente fizera colocou-a na garrafa. Rolhou-a e dirigiu-se para a janela do seu quarto. Abriu-a, sentiu o cheiro a mar e ouviu o alegre conversar de miúdos algures à distância. Depois sorrindo recuou o braço para ganhar balanço e lançou mais uma mensagem esperando alguns segundos até ouvir a garrafa cair dentro de água. E sonhou. Sonhou com o dia em que a mais bela rapariga do mundo inteiro viria ter com ele com todas as mensagens e poemas que escrevera na sua mão e passariam horas a falar sobre cada um deles. Apaixonar-se-iam e iriam ser o casal mais feliz do mundo.
O vizinho do lado em contrapartida quando passou junto da sua piscina e viu mais uma garrafa a boiar pensou… “coitado do filho dos vizinhos do lado… além de cego deve ser um bocado apalermado… escreve para aí umas palermices e depois manda garrafas para dentro da minha piscina. Nem sei como é que hei de dizer isto aos pais.. afinal são tão simpáticos.

Tuesday, June 10, 2008

Sinais Divinos

Ezequiel Leal era um bom homem. Bom coração, bons princípios, recto e como se costuma dizer (apesar de parecer absurdo) amigo do seu amigo.
Toda a sua vida vivera convicto de que havia um Deus mas sem se preocupar muito com as regras que os humanos (em nome desse Deus) lhe tentavam impor.
Era casado e tinha 2 filhos de quem gostava muito e com quem tentava passar grande parte do seu tempo, era também muito dedicado à sua esposa sendo na verdadeira acepção da palavra um homem de família.

Tudo se alterou um dia quando após ter comido uma abundante refeição na casa de sua mãe (durante a qual mais uma vez foi bombardeado com toda a religiosidade da mãe e os sinais de Deus para aqui, mandamentos para ali, etc) se sentiu indisposto, com vómitos e após visita ao hospital foi avisado da necessidade de ser operado de urgência ao apêndice.
Quando acordou após a intervenção cirúrgica, acreditou ter tido uma visão de Deus, (que por acaso até era um bocado parecido com o anestesista que o pôs a dormir para a operação) e a partir daí considerou que este acontecimento tinha sido um sinal de Deus.
Este e todos os futuros acontecimentos que representavam alguma estranheza na normalidade da sua vida, foram a partir daí considerados sinais divinos para que se aproximasse mais do que a sua mãe apelidava dos caminhos de Deus.
Por isso, no Verão seguinte quando o seu filho foi atropelado quando estava à espera do autocarro, Ezequiel considerou isto um sinal de Deus para corrigir a sua vida, e apesar de não saber muito bem o que estava a fazer de errado, pensou que se calhar não estava a ser um bom pai e que talvez devesse ser mais ríspido com os seus filhos tornando-se a partir daí um homem mais seco e na realidade menos amado pelos seus 2 filhos.
Quando à sua esposa foi diagnosticado um cancro no estômago Ezequiel considerou que isto era um sinal divino para lhe lembrar que não bastava só ele ser frequentador da igreja, mas que toda a família o deveria ser e por isso convenceu a sua debilitada esposa a ir todos os dias à missa. Esta situação não durou muito tempo porque a mesma faleceu pouco tempo depois não sem antes ter passado todos os dias a queixar-se de como gostaria de fazer uma grande viagem de avião com Ezequiel.
Após várias tentativas de refazer a sua vida com diferentes mulheres (todas elas goradas por um qualquer sinal divino) Ezequiel acabou por se tornar rabugento, infeliz e chato para todos os que o rodeavam.
Com o tempo a ele próprio foi diagnosticado uma doença do foro oncológico que, como sempre, foi assumido como mais um sinal divino para modificar algo na sua vida. O tempo também no seu caso foi escasso e após 6 meses de grande sofrimento, Ezequiel cedeu à doença e faleceu.
Algures no sítio que habitualmente chamamos céu, alguém nada parecido com o anestesista de Ezequiel pensava “Eu fartei-me de lhe enviar sinais para ele perceber que já lhe restava pouco tempo e ele nunca chegou a aproveitar a vida ao máximo… não entendo!!!!”

Monday, June 02, 2008

Rotinas


Acordou com o resvalar da cabeça para fora do apoio da sua mão e o consequente cabecear (inúmeras vezes apelidado de “fazer contas de cabeça”).
Estava a sonhar com “Ela”, tinha ainda gravada na sua retina a imagem do contorno das suas costas.

“Gaita”, pensou...“- ia agora entrar na parte melhor”.
Fazendo tudo por tudo para ir acordando aos poucos para poder ir trabalhar (afinal de contas eram já 9h15m) retomou a sua rotina.
Passou a mão pelo queixo e sentiu o arranhar típico, “éééépppááááá- tenho que fazer a barba”, de seguida olhando um pouco mais para baixo viu a camisa com 2 ou 3 botões desapertados e pensou, “tenho que mudar esta camisa”, olhou para os punhos e verificou que esta ideia era substanciada pelo facto de os punhos da camisa estarem sujos e “rafados”.
Olhou mais para baixo e mirando as calças pensou “estas calças também não servem ... são um bocado “desportivas” demais para a ocasião”.
Depois rematou olhando (cuidadosamente com o olhar de um profissional) para todos os pontos importantes - “tenho que mudar as meias, os sapatos, enfim quase tudo, nada disto é digno da ocasião.
Depois calmamente sorriu e comentou alto, “vamos lá pôr-te bonito” e com esta frase começou a mexer no corpo que estava em cima da mesa da morgue e que tinha que entrar na capela mortuária às 10h00.